Kellogg Insight - Funcionários são mais propensos a trapacear quando estão saindo da empresa
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Organizations fev. 8, 2016

Funcionários são mais propensos a trapacear quando estão saindo da empresa

É muito grande a tentação de agir de forma antiética em uma economia sob demanda (gig economy).

The final stretch of a job can prompt unethical behavior.

Yevgenia Nayberg

Based on the research of

Daniel J. Effron

Christopher J. Bryan

J. Keith Murnighan

Alerta: todo mundo trapaceia. Pode ser tão sutil quanto furar filas ou tão mercenário quanto mentir em balanços contábeis antes de apresentar uma oportunidade de investimento a um grupo. Portanto, o xis da questão não é se as pessoas trairão a confiança de alguém, mas sim quando.

J. Keith Murnighan da Kellogg School of Management e seus colegas realizaram pesquisas para entender esse tema. Descobriram que o "remorso antecipado" pode fazer as pessoas pensarem que é aceitável trapacear, especialmente perto do fim de um trabalho ou tarefa.

"Pense nos estagiários que estão saindo e que não têm chance alguma de conseguir um emprego de longo prazo na mesma empresa, ou um funcionário temporário em uma fábrica de onde está saindo e para a qual nunca mais voltará", ou empregados terceirizados, que alimentam a chamada economia sob demanda (gig economy), diz Murnighan. "No último dia de trabalho, você pode pegar algo que não devia na saída".

Saber que tal ato provavelmente não acarrete possíveis consequências certamente pode aumentar a tentação de trapacear. No entanto, Murnighan e seus coautores mostram que não são os ganhos ilícitos em si que motivam a "trapaça final". Ao contrário, o comportamento desonesto é motivado por um desejo de evitar futuros sentimentos de arrependimento em deixar passar uma última oportunidade de obter ganhos pessoais.

É agora ou nunca
Para explicar a ideia de arrependimento antecipado, Murnighan pede para imaginarmos uma pessoa que pensa em comprar um imóvel. A propriedade pode ser maravilhosa, mas outras circunstâncias como taxas de juros, insegurança no trabalho, etc., podem fazer o possível comprador desistir.

Entra então o arrependimento antecipado. "Antes de desistir da ideia, quase inevitavelmente eles pensam, 'seria realmente uma idiotice da minha parte não aproveitar desta oportunidade', mesmo que não vão atrás disso", diz Murnighan.

(O arrependimento antecipado não precisa necessariamente se limitar às finanças. Murnighan dá um exemplo da sua juventude, quando não abordou uma moça porque ouviu dizer de que ela estava namorando outra pessoa. "Cinquenta anos depois, eu ainda me arrependo", diz ele. "Se eu tivesse antecipado esse sentimento, talvez eu tivesse agido de forma diferente para evitar o arrependimento futuro de deixar passar essa oportunidade.")

Murnighan e seus coautores, Daniel Effron da London Business School e Christopher Bryan da Booth School da Universidade de Chicago, previram que o arrependimento antecipado sobre a perda de uma última oportunidade de enriquecer pode incentivar o comportamento antiético.

Para testar essa ideia, os pesquisadores elaboraram quatro experimentos para medir o momento em que os participantes se tornam dispostos a trapacear.

Cara ou coroa
Em dois dos experimentos, centenas de participantes recrutados do Mechanical Turk da Amazon foram convidados a jogar cara ou coroa e informar qual lado ficou para cima, de forma ostensiva, como parte de um estudo para saber se as pessoas podem mover objetos com a mente. Como as jogadas de moeda eram relatadas de forma autônoma, os participantes tiveram amplas oportunidades de falsificar seus relatos, e havia uma pequena recompensa em dinheiro se a moeda caísse com um dos lados voltados para cima.

Depois de analisar os resultados de mais de 25.000 lançamentos de moedas, Murnighan e seus colegas demostraram que os participantes eram mais do que três vezes mais propensos a trapacear quando eram levados a pensar que não teriam mais oportunidades de fazê-lo.

Além disso, os pesquisadores excluíram explicações alternativas para esse comportamento desonesto. Por exemplo, os participantes podem ter sido motivados a trapacear mais no final, seja pelo fato de resistir a múltiplas tentações ter esgotado suas reservas de autocontrole, ou porque a exposição repetida a essas tentações gradativamente fez com que se acostumassem com a ideia de não serem descobertos. Ou os participantes também podem ter se envolvido em uma "licença moral", um fenômeno psicológico peculiar no qual as ocorrências anteriores de bom comportamento podem fazer com que as pessoas sintam como se tivessem autorizadas para fazer com que seus padrões éticos fiquem flexíveis.

Ao manipular o tempo de algumas oportunidades de trapacear, Murnighan e seus colaboradores mostraram que o arrependimento antecipado era a provável explicação. Por exemplo, ao oferecer uma oitava jogada aos participantes que achavam que iriam jogar a moeda apenas sete vezes, a surpresa dos investigadores proporcionou assim uma chance extra de trapacear. O comportamento desonesto dos participantes disparou na sétima jogada "final", depois diminuiu na oitava jogada inesperada. Se os participantes estivessem motivados por outros possíveis incentivos, diz Murnighan, teriam continuado a trapacear na oitava jogada.

Testando a trapaça no trabalho
Outra experiência foi estruturada de forma semelhante, porém usou participantes que eram de fato contratados pelos pesquisadores para realizar um número específico de tarefas.

Os participantes se cadastraram on-line para serem assistentes de pesquisa temporários cuja tarefa era avaliar uma série de redações curtas. Foram pagos por minuto e tinham que relatar eles mesmos o tempo trabalhado. O que eles não sabiam era que os investigadores podiam, de fato, ver quanto tempo eles realmente gastaram em cada redação.

Tal como acontece com as jogadas de moeda, os participantes eram mais propensos a falsificar a fatura quando estavam trabalhando na última redação que lhe fora atribuída.

Ética de fim de jogo
Como essa experiência demonstra, os resultados têm as maiores implicações para a gestão do risco entre os trabalhadores temporários, diz Murnighan.

"Nossa tendência é querer espremer a última gota de produtividade que for possível, especialmente de funcionários de meio período que não voltarão mais", diz ele, "mas eu acho isso um erro".

Em vez disso, ele recomenda flexibilizar os compromissos do contratado perto do fim do contrato para mitigar possível desonestidade. "Se você tem um trabalho de duas semanas, pense em deixar as pessoas irem embora às 13h no último dia, em vez de mantê-los até às 17h", explica ele. "Quando você concede um pequeno bônus como esse, elas são menos propensos a tentar tirar outro tipo de bônus por conta própria ao saírem".

Os resultados também sugerem que, quando as empresas têm recursos limitados para monitorar o comportamento dos funcionários, os gestores devem focar sua atenção em pontos de parada naturais nos procedimentos e horários, que podem seduzir o comportamento antiético. "Se nós aprendemos alguma coisa com a crise financeira", diz Murnighan, "foi que as pessoas não vão se prender quando a tentação [de trapacear] for alta, e isso é especialmente verdade em situações de fim de jogo".

Ainda assim, Murnighan não acha que os gerentes devam interpretar sua pesquisa com cinismo.

"A conclusão não é a de que os líderes devem sempre esperar que as pessoas ajam de forma antiética", diz ele. "Ao contrário, devem criar mais meios para as pessoas agirem de forma ética".

Para este fim, acrescenta, o bom senso vale mais do que tudo: "Não deixe maços de dinheiro à mostra no seu escritório. Especialmente às sextas-feiras".

Featured Faculty

Member of the Department of Management & Organizations from 1996 to 2016

About the Writer
John Pavlus is a writer and filmmaker focusing on science, technology, and design topics. He lives in Portland, Oregon.
About the Research

Effron, Daniel A., Christopher J. Bryan, and J. Keith Murnighan. In press. “Cheating at the End to Avoid Regret.” Journal of Personality and Social Psychology.

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