Kellogg Insight - Os bonzinhos chegam sempre por último
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Leadership out. 31, 2011

Os bonzinhos chegam sempre por último

O altruísmo pode ser recompensado com prestígio, mas raramente com liderança

Based on the research of

Nir Halevy

Eileen Chou

Taya Cohen

Robert W. Livingston

O altruísmo é um componente importante para a maneira pela qual uma sociedade funciona, mas sempre existe o risco da exploração. Pessoas egoístas podem acabar se valendo da bondade dos outros e, com isso, prejudicar o grupo através do desvio de recursos valiosos. Cientistas sociais buscam há muito uma explicação razoável para a existência do altruísmo. Um pressuposto aceito no campo é que os grupos reconhecem contribuições altruístas, conferindo status à pessoa generosa, seja por meio de posição social mais elevada, reconhecimento, ou simplesmente respeito. No entanto, essa teoria não é perfeita, já que não explica o porquê de líderes que se comportam egoisticamente chegarem ao poder.

Robert Livingston, professor assistente de gestão e organizações da Kellogg School of Management, e os co-autores Nir Halevy, professor assistente interino da Universidade de Stanford, Eileen Chou, palestrante da Kellogg School e Taya Cohen, professora assistente da Universidade Carnegie Mellon, foram os que mais recentemente entraram no debate sobre o papel do comportamento altruísta na sociedade humana e suas origens. O altruísmo, argumentam, pode ser benéfico ou prejudicial para o status social de uma pessoa, dependendo de como é definido. Além disso, pode também funcionar como barreira no caminho para a liderança.

A hipótese original, de que o altruísmo conduz a um status mais elevado, baseia-se em uma definição de status muito ampla. O status pode ser dividido em dois componentes, domínio e prestígio, segundo a argumentação de Livingston e seus colegas. Ambos referem-se à classificação e posição de uma pessoa dentro de um grupo, e ambos podem levar à influência social e poder, mas as semelhanças param por aí. "Domínio", defende Livingston: "envolve o uso de intimidação e coerção para atingir um status social baseado em grande parte na indução eficaz de medo". Prestígio, por outro lado, é muitas vezes baseado em atos altruístas ou ter um bom caráter, ou mesmo "apenas a ser uma grande pessoa", acrescenta. Mais importante ainda, "o prestígio é conferido livremente por outros, não imposto aos outros".

Livingston cita Al Capone e Dalai Lama como dois exemplos reais que ilustram os dois lados do status. Al Capone ganhou respeito, mas apenas porque as pessoas tendiam a acabar mortas se cruzassem seu caminho. O Dalai Lama é o oposto. Respeitado por seus ensinamentos sobre a não-violência e opiniões sobre a democracia e a harmonia religiosa, recebe "admiração e deferência livremente conferidas", Livingston ressalta.

Classificação de domínio e prestígio
Curiosos sobre como o altruísmo pode afetar os dois lados do status, Livingston e seus colegas realizaram três estudos distintos. Os participantes foram divididos em grupos de quatro pessoas e receberam dez fichas de apostas no valor total de US$20, que poderiam distribuir como preferissem, inclusive guardar as fichas para si. Os diferentes experimentos variaram o nível de contribuição, bem como se as contribuições ajudavam o grupo de tal indivíduo, ajudaram o grupo do indivíduo e outro grupo, ou ajudaram o grupo do indivíduo, mas prejudicaram o outro grupo.

Em cada estudo, os participantes foram convidados a avaliar os outros membros do grupo quanto a domínio e prestígio. No segundo e terceiro estudos, também foram questionados sobre qual tipo de pessoa gostariam que os liderasse em uma tarefa dentro do grupo ou uma tarefa intergrupal competitiva.

No primeiro experimento, os participantes egoístas, aproveitadores que guardaram todas as fichas para si e não contribuíram em nada para o grupo, obtiveram uma classificação inferior em prestígio mas superior em domínio do que os participantes que contribuíram em prol do grupo. Em estudos posteriores, os participantes que prejudicaram outro grupo também foram classificados em maior dominância do que as pessoas que contribuíram para o seu próprio grupo, sem prejudicar os de fora. Finalmente, os indivíduos mais generosos, aqueles que contribuíram para beneficiar tanto o seu grupo como os de fora, obtiveram a menor classificação em ambos domínio e prestígio. Em suma, os indivíduos eram vistos como mais dominantes se fossem egoístas e discriminados em favor de seu próprio grupo em detrimento dos outros.

Quando chegou a hora de escolher os líderes, domínio e prestígio desempenharam papéis distintos, dependendo do tipo de liderança exigida. Nos casos em que não havia competição intergrupal, as pessoas preferiram indivíduos com mais prestígio. Mas quando os grupos tiveram de concorrer uns contra os outros, os indivíduos dominantes foram elevados ao topo, enquanto as pessoas benevolentes tinham menor probabilidade de ser eleitas.

Muitos, se não a maioria, dos contextos sociais envolvem mais de um grupo e são inerentemente competitivos, observa Livingston. Isto pode dar às pessoas egoístas ou dominantes vantagens nessas circunstâncias e pode ser um ponto de origem corrupção em governos e outras organizações. "Anteriormente, as teorias e pesquisas argumentavam que o poder corrompe, mas o que nossos dados sugerem é que as pessoas podem estar favorecendo os indivíduos com maior propensão para a corrupção", defende. "Contextos de liderança não são, invariavelmente, sobre estratégia competitiva. Os líderes também equilibram os orçamentos e tomam decisões que afetam apenas o próprio grupo. Por definição, as pessoas generosas e benevolentes são mais propensas a se comportar com justiça e equitativamente, e menos propensas do que as pessoas egoístas e dominantes a oprimir e explorar os outros".

Faca de dois gumes
"Os bonzinhos chegam sempre em último lugar?" Livingston pondera. "Em contextos competitivos, a resposta é muitas vezes afirmativa. A razão para chegarem em último lugar é porque ser bonzinho, contribuir com muitos recursos para o grupo, atos de generosidade, tudo isso aumenta o prestígio. Outras pessoas o admiram e dizem, 'Puxa vida, isso é muito legal. Essa é uma pessoa amável que faz todas essas coisas maravilhosas". Mas diminui o seu domínio. Faz você não parecer tão durão".

"O altruísmo é uma faca de dois gumes", afirma o pesquisador. "Por um lado, as pessoas generosas são admiradas por sua bondade, compaixão e vontade de ajudar. Por outro lado, podem dar a impressão de serem 'corações de manteiga', fracas que não têm a coragem de tomar decisões difíceis que possam levar adiante as metas da organização".

À primeira vista, os resultados do estudo pintam um quadro negativo dos nossos líderes. Mas as coisas não são tão sombrias como sugerem. Enquanto o domínio pode ser um traço definidor de muitos líderes, as pessoas também prestam atenção ao prestígio. "Prestígio e domínio não são mutuamente exclusivos", afirma Livingston.

"Se uma pessoa for boazinha demais, não importa o quão competente e capaz for, as outras pessoas podem não respeitar sua autoridade. Mas se ela só apresentar domínio e não tiver grandes idéias, e usar a força para permanecer no poder, as pessoas vão ressentir-se", ele conclui. "Ser bem sucedido como líder exige que se tenha tanto domínio como prestígio".

Featured Faculty

Member of the Department of Management & Organizations faculty until 2013

About the Writer
Tim De Chant was science writer and editor of Kellogg Insight between 2009 and 2012.
About the Research

Halevy Nir, Eileen Y. Chou, Taya R. Cohen, Robert W. Livingston. 2012. Status conferral In intergroup social dilemmas: Behavioral antecedents and consequences of prestige and dominance, Journal of Personality and Social Psychology 102(2): 351-366. .

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