Kellogg Insight - Comece sua próxima sessão de brainstorming com uma história constrangedora
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Leadership Organizations dez. 2, 2019

Comece sua próxima sessão de brainstorming com uma história constrangedora

O exercício contraintuitivo pode estimular a criatividade.

When teams need to freely generate ideas, sharing embarrassing stories can help.

Lisa Röper

Based on the research of

Elizabeth Wilson

Leigh Thompson

Brian Lucas

Todos já passamos por momentos constrangedores no trabalho, como por exemplo descobrir espinafre nos dentes após uma apresentação importante, ou achar que havia colocado o microfone da teleconferência em mudo e só mais tarde perceber que o microfone estava ligado depois de alguns comentários sarcásticos.

No entanto, novas pesquisas da Kellogg School indicam que esses momentos podem ter um poder oculto. Segundo o estudo, o constrangimento pode vir a ser um caminho para a criatividade. Quando participantes do estudo relataram momentos constrangedores antes de uma sessão de brainstorming, eles tiveram uma maior quantidade e variedade de ideias do que os que compartilharam uma história sobre a qual se orgulharam.

As histórias embaraçosas parecem remover a barreira da autocensura.

“Em uma sessão de brainstorming, espera-se que as pessoas apresentem ideias sem julgar ou avaliar", diz Leigh Thompson, professora de administração e organizações da Kellogg e autora de Creativity Conspiracy: The New Rules of Breakthrough Collaboration.

Não é fácil fazer as pessoas baixarem a guarda, diz Thompson. Por isso os gestores podem gostar da ideia de que compartilhar um momento constrangedor pode realmente dar asas aos instintos criativos das equipes.

“Qualquer solução que haja afetará diretamente os resultados dos negócios, fazendo com que as equipes sejam mais produtivas", diz Thompson.

Como (não) conseguir obter criatividade em grupos


Como parte do seu trabalho de consultoria, Thompson frequentemente organiza retiros corporativos. Neles, ela observou que os organizadores às vezes começam as sessões com exercícios para quebrar o gelo, com recordações de realizações e atingimento de metas.

O objetivo das sessões onde os participantes se gabam dos seus feitos pode ser o de aumentar a confiança das pessoas. Afinal, elas preferem se concentrar em suas realizações e em minimizar suas falhas. Thompson, porém, observou que muitas vezes isso provocava efeito contrário.

Depois, "quando queria que as pessoas participassem de uma sessão de brainstorming, a tendência era a de autocensura, pois tinham acabado de ouvir todas as grandes realizações apresentadas pelo grupo", diz ela. Ela suspeitou que o que impedia o pensamento inovador era o orgulho das pessoas.

O que levanta a seguinte pergunta: haveria uma outra emoção que pudesse promover a inovação? Eventualmente, Thompson e seus colaboradores Elizabeth Ruth Wilson, da Universidade de Harvard, e Brian J. Lucas, da Universidade de Cornell, pensaram em focar no constrangimento.

De certa forma, o constrangimento é uma escolha surpreendente: afinal, a tendência é associá-lo à incompetência e ao embaraço, características raramente interpretadas como inspiradoras. No entanto, pesquisas anteriores sobre criatividade sugerem que o medo de passar vergonha, de ser julgado como incompetente e desajeitado, é o que inibe a geração de ideias e não o constrangimento em si. Os pesquisadores suspeitavam que, ao contar suas histórias constrangedoras, as pessoas ficariam aliviadas do sentimento de julgamento iminente e isso as encorajaria a pararem de se autocensurar.

Os pesquisadores projetaram dois experimentos para testar essa hipótese, um que analisava a criatividade dos participantes da sessão de brainstorm quando estavam sozinhos e outro quando eram parte de um grupo.

O constrangimento aumenta a criatividade?


No primeiro estudo, 111 participantes on-line foram informados de que participariam de uma tarefa de geração de ideias, mas primeiro precisariam fazer um exercício de "aquecimento". Alguns foram instruídos a fornecer um relato por escrito da coisa mais constrangedora que haviam feito nos últimos seis meses, enquanto outros foram instruídos a descrever algo do qual se orgulhavam nesse mesmo período.

Em seguida, os participantes passaram cinco minutos discutindo o maior número possível de usos incomuns para um clipe de papel. Os pesquisadores avaliaram suas respostas baseados em duas medidas padrão de criatividade: o volume de ideias geradas e o alcance dessas ideias.

Os participantes que haviam contado uma história constrangedora geraram significativamente mais ideias do que os que relataram um feito do qual se orgulhavam. Também geraram mais ideias em diferentes categorias, como o uso de clipes de papel como brincos (joias), alfinetes para tomate (jardinagem) e palhetas não convencionais para coquetéis (utensílios).

Os pesquisadores também trabalharam com um grupo de controle, ao qual foi solicitado descrever o trajeto até o trabalho antes de concluir a tarefa do clipe de papel. Descobriram que os resultados desse grupo não foram diferentes daqueles do grupo do orgulho, sugerindo que o constrangimento fez os participantes mais criativos do que o normal.

Constrangimento leva a mais ideias com maior diversidade


Em seguida, Thompson e seus colegas se perguntaram: As histórias constrangedoras também ajudam a aumentar a criatividade nas equipes?

Afinal, em muitos ambientes de negócios, as sessões de brainstorming tendem a acontecer dentro de equipes. No entanto, algumas pesquisas mostram que as equipes são na verdade menos criativas que as pessoas, o que faz com que a implementação de estratégias de intervenção eficazes é ainda mais valiosa em ambientes de grupo.

O segundo experimento incluiu 93 gestores matriculados em um programa de formação executiva universitária. Os pesquisadores alocaram aleatoriamente os gestores em equipes de três pessoas, instruindo metade delas a compartilhar um momento constrangedor dos últimos seis meses e os demais a compartilhar um momento de orgulho.

Entre os grupos de histórias constrangedoras, "Havia sempre a pergunta sobre quem iria ser o primeiro?" Thompson diz. “Eventualmente, uma pessoa conta uma história e inevitavelmente acontece o que chamo de gargalhada geral. Não estão rindo da pessoa. Riem e dizem: ‘Não acredito, eu praticamente já fiz a mesma coisa' ou 'eu sei o que você passou’”.

Após o quebra-gelo, os grupos foram convidados a sugerir usos incomuns para uma caixa de papelão. Os resultados foram claros: as equipes que compartilharam histórias constrangedoras geraram 26% mais ideias do que os grupos que compartilharam histórias de orgulho.

“Uma das grandes descobertas na literatura sobre criatividade e inovação é que se procura ter muitas ideias para brincar", diz Thompson. “Se um grupo apresentar quase 30% mais ideias do que outro, as possibilidades são bem maiores".

As equipes que compartilharam histórias constrangedoras também geraram uma variedade maior de ideias, com um aumento de 15% de categorias.

Um quebra-gelo nada convencional para sessões de brainstorming


O motivo exato pelo qual contar histórias constrangedoras leva a mais geração de ideias não está claro. Os pesquisadores levantam a hipótese de que isso pode aliviar as preocupações com futuros constrangimentos e, assim, promove o desempenho. No entanto, é também possível que outras pessoas do grupo desenvolvam maior afinidade pelas pessoas que revelam suas falhas, o que leva a maior confiança e melhor desempenho.

Seja qual for o motivo, a descoberta pode ajudar gestores a estimular a criatividade entre suas equipes. Isso se torna especialmente crucial à medida que cada vez mais organizações adotam o design thinking, que exige que todos se sintam à vontade trazendo novas ideias para discussão.

Thompson recomenda que gestores comecem suas sessões de brainstorming com o exercício de histórias constrangedoras. Além de promover a geração de ideias, ele também faz com que as pessoas se envolvam desde o início. “Automaticamente, as pessoas começam a prestar atenção e ficam mais envolvidas", diz ela. “Existe um desejo irresistível de deixar [o contador de histórias] terminar, porque histórias humanas nunca são chatas".

Porém, para tirar o máximo proveito do exercício, é importante que as pessoas compartilhem histórias recentes, para não pensar "Bom, agora sou uma pessoa transformada pela experiência", diz Thompson.

Obviamente, o exercício não serve para todas as situações. Se uma equipe trabalha em uma missão tática, como criar um relatório financeiro, ou em uma missão de solução de problemas, como controle de danos, nesses casos, não cabe trazer histórias constrangedoras, observa Thompson.

“Os líderes mais eficazes e as equipes e empresas mais efetivas são realmente as que podem desempenhar em diversos tipos de cenários, dependendo do desafio”, diz ela.

Mas quando for hora para criatividade e inovação e os funcionários começarem a revelar suas histórias, os gestores não devem deixar de participar com suas próprias histórias.

“Se alguém se arrisca falando sobre um momento constrangedor, reforce-o", diz Thompson. “Diga simplesmente: 'Ah, eu tenho uma história para você também'".

Featured Faculty

J. Jay Gerber Professor of Dispute Resolution & Organizations; Professor of Management & Organizations; Director of Kellogg Team and Group Research Center; Professor of Psychology, Weinberg College of Arts & Sciences (Courtesy)

About the Writer
Emily Ayshford is a freelance writer in Chicago.
About the Research
Wilson, Elizabeth R., Leigh Thompson, and Brian Lucas. (In press). “Pride and Pratfalls: Recounting Embarrassing Stories Increases Creativity.” International Journal of Design Creativity and Innovation.
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