Kellogg Insight - A política pode atrapalhar sua carreira?
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Politics & Elections Careers set. 1, 2022

A política pode atrapalhar sua carreira?

Novas pesquisas mostram que, da contratação à promoção, você pode ser prejudicado por discordar politicamente dos seus superiores.

Office with manager and well-appointed subordinate cubicle sharing political affiliation

Michael Meier

Based on the research of

Emanuele Colonnelli

Valdemar Pinho Neto

Edoardo Teso

No mundo polarizado de hoje, pode parecer cada vez mais difícil manter nossas visões políticas para nós mesmos, e até mesmo especificamente no trabalho, onde passamos a maior parte do dia. De qualquer forma, seu chefe já deve saber a sua preferência por um partido. Aparece no seu currículo um trabalho voluntário para um candidato a cargo político? Mencionou na segunda-feira a sua participação em um protesto no fim de semana?

É possível que você acredite que possa causar conflitos com colegas de trabalho e empregadores se falar muito ou com muito fervor sobre seus pontos de vista. Entretanto, se demonstra respeito aos colegas, provavelmente pensa que as diferenças na política não serão problemas para sua carreira.

É isso que também pensavam os economistas. “No setor privado, o consenso comum é que, na verdade, a política no local de trabalho não importa muito”, diz Edoardo Teso, professor assistente de economia gerencial e ciências da decisão da Kellogg School.

No entanto, a realidade é que seu ponto de vista a respeito da política pode ser um fator importante na contratação para um trabalho específico, de acordo com novas pesquisas de Teso e coautores Emanuele Colonnelli, da Universidade de Chicago, e Valdemar Pinho Neto, da Fundação Getúlio Vargas.

“Cada vez mais estamos vendo tendências de polarização política que sabemos que alteram as decisões sociais comuns, como onde viver e com quem fazer amizade”, diz Teso. "Queríamos saber se a política tem algum papel entre funcionários e empresas, e se influencia o que acontece dentro da empresa."

A pesquisa mostra que os donos de pequenas e médias empresas estão muito mais propensos a contratar candidatos que sejam membros do mesmo partido político. Além disso, quando os contratados não compartilham a mesma afiliação política que o chefe, recebem salários mais baixos, são promovidos com menor frequência e, em média, duram muito pouco na empresa. Em outras palavras, diferenças políticas pessoais podem, sem dúvida, deixar uma marca em sua carreira.

Na verdade, os pesquisadores descobriram que a política é um fator maior do que outras preferências no tocante à contratação.

“Descobrimos que a preferência de contratação e o prêmio salarial político para trabalhadores do mesmo partido que os donos é maior do que para diferenças de gênero e raça compartilhados, que, por pesquisas anteriores, também sabemos ser muito importantes”.

A política faz parte do processo de busca de emprego

Os pesquisadores analisaram dados de um registro governamental sobre afiliações políticas de 12 milhões de empregadores e funcionários de empresas privadas no Brasil durante o período de 2002–2019. Combinaram essas informações com duas outras grandes fontes de informações governamentais sobre demografia, localização, indústria e ocupação para cada indivíduo. A amostra consistia de 11,4% de proprietários do setor privado e 7,8% de trabalhadores.

O Brasil, assim como os EUA, é um país que apresenta uma alta e cada vez mais crescente polarização política, diz Teso. Lá, é ilegal discriminar com base em partido político no processo de contratação. Porém, paradoxalmente, até o ano passado, o Brasil disponibilizava ao público e facilitava o acesso a informações sobre a filiação político-partidária individual.

A disponibilidade de dados tão ricos “foi uma parte importante de termos escolhido o Brasil e a razão pela qual conseguimos escrever este artigo”, diz Teso. Além disso, “o Brasil é um estudo de caso interessante, mesmo se pensarmos além dos dados”.

Por um lado, diferente dos EUA, que têm dois grandes partidos, o cenário político do Brasil é bastante fragmentado. Durante o período do estudo, houve 35 partidos no Brasil, com os sete principais partidos responsáveis por 70% do total de pessoas afiliadas a partidos. Nos mercados de trabalho locais onde ocorre a maioria das contratações para pequenas e médias empresas, há uma alta probabilidade de que os donos das empresas já conheçam os candidatos a emprego, bem como suas afiliações políticas, por meio de redes pessoais ou profissionais.

O resultado da análise foi impressionante. Em média, trabalhadores e empregadores estavam 50% mais propensos a pertencer ao mesmo partido quando comparados com essa probabilidade se tivessem sido escolhidos aleatoriamente. Trabalhadores co-partidários estavam mais propensos a serem contratados e menos propensos a sair da empresa após a contratação do que outros trabalhadores.

Além disso, os dados revelam que funcionários politicamente alinhados estão mais propensos a serem promovidos em todos os níveis e a ganharem até 3,8% mais em comparação com colegas não alinhados no mesmo nível.

“Esperava ver um efeito, especialmente em pequenas empresas onde sabemos que empregadores e trabalhadores interagem diariamente. O que chama a atenção é a magnitude do relacionamento”, Teso diz.

Esta primeira análise mostra simplesmente que as preferências dos trabalhadores e dos empregadores estão correlacionadas. O que os trabalhadores, e economistas, realmente gostariam de saber é o quanto essa associação se deve às preferências de emprego que se baseiam em partidos políticos, ao invés de preferências baseadas em outros fatores que são simplesmente associadas ao partido político.

Assim, Teso e coautores passaram quase dois anos explorando os diversos fatores não políticos ligados à filiação política e à contratação, como raça, gênero, geografia, nível de escolaridade e indústria. Por exemplo, uma empresária com um diploma de pós-graduação que vive em uma área urbana que contrata outra mulher com diploma de pós-graduação que vive na mesma área urbana pode ter, incidentalmente, contratado uma pessoa que também pertence ao mesmo partido político.

E embora houvesse evidências estatísticas de que fatores não políticos, especificamente raça e gênero, contribuem para a correlação, Teso e colegas descobriram que a preferência política desempenhou um papel muito maior.

Perguntar aos empregadores se eles discriminam

Para ter uma noção mais clara de se a preferência pela filiação do mesmo partido se originava dos empregadores ou dos funcionários, Teso e colegas criaram um experimento para ver como essas preferências políticas aconteciam em cenários da vida real.

Um subconjunto de donos de empresas do mesmo conjunto de dados de pesquisa usado acima foi convidado a avaliar currículos de candidatos a emprego fictícios com qualificações realistas. Os pesquisadores descobriram que os donos de empresas classificaram currículos com pontuações significativamente maiores quando continham pistas (como trabalho voluntário) de que o candidato a emprego era do mesmo partido que ele em comparação com os de partidos opostos.

Em seguida, a equipe selecionou 891 donos de empresas e 1.003 trabalhadores do conjunto de dados para responder a uma pesquisa, pedindo-lhes para avaliar possíveis razões por trás das descobertas em um "estudo recente", que é o estudo foco deste artigo.

Tanto os empregadores quanto os funcionários relataram a crença de que o padrão de contratação partidária se deve especialmente à discriminação, seja por causa da preferência clara dos empregadores por membros do mesmo partido ou porque acreditam que os membros do mesmo partido apresentarão melhor desempenho no trabalho.

Surpreendentemente, 29% dos empresários entrevistados admitiram que levam em consideração as visões políticas de potenciais trabalhadores ao tomar decisões de contratação.

Discriminação política pode sair cara

O objetivo de um candidato a emprego é encontrar o melhor cargo que corresponda às suas qualificações. O ideal seria um empresário encontrar o candidato mais qualificado sem nenhum preconceito.

“A grande pergunta que nosso artigo deixa é ‘A discriminação política é boa ou ruim para o crescimento da empresa?’”, Teso diz. “Se houver discriminação motivada somente por uma aversão da outra parte, acreditamos que seja prejudicial ao desempenho”, sugere. Por outro lado, se um empresário apenas tenta criar coesão de equipe e evitar conflitos, "pode ser excelente ter visões políticas semelhantes".

No artigo, Teso apresenta dados observacionais sugerindo que o viés político tem poder limitador de crescimento semelhante ao viés racial e de gênero. Ele descobriu que o crescimento da força de trabalho de empresas com uma parcela maior de trabalhadores do mesmo partido foi significativamente mais lento em comparação com as empresas com contratações mais diversificadas em relação à política. O tema merece um estudo muito mais aprofundado, diz ele. “O que vemos no Brasil pode também estar acontecendo nos EUA. E os formuladores de políticas podem estar se perguntando: qual é a implicação para a produtividade e para a melhor alocação de recursos humanos em toda a economia?”

E qual é a conclusão obtida para funcionários e candidatos a emprego? Depende, diz Teso.

“Uma lição da nossa pesquisa é que, se você não quiser ser discriminado, deixe a política fora do currículo o máximo possível. Porém, se souber que a afiliação partidária do empregador corresponde à sua, especialmente se for uma empresa pequena, pode sim encontrar uma maneira de enviar esse sinal”.

Featured Faculty

Associate Professor of Managerial Economics & Decision Sciences

About the Writer

Melody Bomgardner is a freelance writer in Bend, Oregon.

About the Research

Colonnelli, Emanuele, Valdemar Pinho Neto, Edoardo Teso. 2022. “Politics at Work.” Working paper.

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