Finance mar. 25, 2021
Para investidores sustentáveis, qual a utilidade da classificação ESG?
As classificações aumentam em número. Agora pode ser mais fácil avaliá-las.
Lisa Röper
Nas últimas décadas, os fundos de investimento que colocam as considerações ambientais, sociais ou de governança como prioridade têm aumentado cada vez mais.
Gerentes de investimento que empregam essas estratégias (muitas vezes reunidas sob a sigla “ESG”) podem, por exemplo, basear as decisões de investimento na produção de carbono das empresas, na segurança do trabalho de seus funcionários ou na porcentagem de mulheres e líderes minoritários em posições elevadas de governança.
É necessário que os gerentes de fundos que desejam desenvolver estratégias em torno de tais detalhes minuciosos interpretem grandes volumes de dados e analisar notícias e relatórios corporativos em constante atualização. Assim, um número cada vez maior de empresas de pesquisa atende a essa necessidade crescente.
Algumas dessas empresas geram as “classificações ESG” – um número (normalmente entre 0 e 100) aplicado a empresas que tentam quantificar seu desempenho geral em ESG. Cada classificação leva em consideração uma grande quantidade de informações em várias categorias, e cada empresa utiliza uma fórmula diferente para gerar a classificação. Às vezes, o resultado é uma empresa carimbada com classificações ESG totalmente divergentes, o que leva algumas empresas no setor a reclamar que as classificações não têm significado algum.
Outras argumentam que, usados corretamente, os ratings podem ser a chave para investimentos mais inteligentes.
Aaron Yoon, professor assistente de contabilidade e gestão de informações na Kellogg School, queria contestar as duas reivindicações. Por um lado, é possível que as classificações ESG não signifiquem nada; por outro, é possível que gerentes de investimento desistissem dos ratings – e da estratégia ESG mais ampla – muito facilmente.
“As classificações ESG são um novo tipo de avaliação de desempenho, como previsões de analistas ou classificações de títulos”, diz Yoon, “e nunca foram realmente avaliadas porque nunca houve uma variável clara quanto ao resultado”. Em outras palavras, embora classificações de títulos e previsões de analistas façam previsões diretas que eventualmente serão julgadas em relação a um resultado futuro específico, as classificações ESG não são tão fáceis de serem consideradas precisas ou totalmente erradas, mesmo a posteriori.
Em um novo artigo, Yoon e coautor George Serafeim, da Harvard Business School, encontraram uma maneira de responsabilizar as classificações ESG. Testam as classificações para ver se elas preveem futuras notícias relevantes de ESG sobre empresas – tanto boas notícias, como uma nova iniciativa ecológica, quanto as más, como um acidente de fábrica com lesões aos trabalhadores.
Os autores descobriram que as classificações de consenso ESG preveem boas e más notícias ESG futuras, embora a capacidade preditiva enfraqueça à medida que aumenta a discordância entre os avaliadores de determinadas empresas. No entanto, os pesquisadores apresentam uma estratégia de investimento lucrativa que se beneficia das divergências encontradas.
Em suapesquisaanterior sobre o espaço de investimento ESG em rápido crescimento, as descobertas de Yoon nem sempre refletiram bem no setor. No entanto, o artigo mais recente dá um certo grau de credibilidade à prática de aplicação e utilização das classificações ESG.
“Há uma enorme onda de dinheiro fluindo para o espaço ESG”, diz Yoon. “Minha agenda de pesquisa é: como contabilizar o índice ESG? Como quantificá-la para que seja útil aos investidores? Ou, ainda, como as classificações ESG podem ser usadas de forma sistemática para gerar retornos sólidos?”
Análise do poder preditivo das classificações ESG
Os pesquisadores se concentram nos três provedores de classificações ESG com maior cobertura – MSCI, Sustainalytics eThomson Reuters.
Para testar a possibilidade de as classificações preverem notícias futuras, os autores calculam a média das classificações das três empresas e obtém uma única pontuação ESG para cada empresa. Em seguida, Yoon e Serafeim usam um conjunto de dados do TruValue, um laboratório que rastreia notícias relacionadas ao ESG em milhares de empresas e usa processamento de linguagem natural para classificar as notícias em um espectro de positivo a negativo. O conjunto de dados TrueValue resumiu 31.854 observações de notícias ESG no nível da empresa entre janeiro de 2010 e junho de 2018.
A comparação dos dois conjuntos de dados revelou que, de fato, as classificações ESG estavam fortemente correlacionadas ao sentimento de notícias ESG futuras, onde as altas classificações ESG previam notícias positivas e as baixas previam notícias negativas.
No entanto, tal correlação começou a diminuir assim que o consenso entre avaliadores diminuiu; devido à grande discordância, o poder preditivo das classificações enfraqueceu consideravelmente.
Os pesquisadores examinaram então se as classificações ESG – e o nível de discordância entre os avaliadores – tiveram algum efeito nos preços das ações. Para isso, primeiro analisaram as reações às notícias sobre ESG comparando o preço das ações de uma empresa um dia antes da notícia com o preço um dia depois. Como esperavam, os preços das ações responderam positivamente às boas notícias e negativamente às más notícias do ESG.
A próxima etapa foi investigar se as classificações ESG pareciam mudar a maneira como as notícias ESG boas ou ruins eram absorvidas pelos preços. Os pesquisadores descobriram que as empresas com pontuações ESG médias baixas deram um salto maior no preço das ações após notícias ESG positivas (75 pontos base, em média) do que as com pontuações altas (apenas 34 pontos base).
A teoria concebida pelos autores é que isso dá porque o sentimento positivo refletido nos preços das ações já fazia parte das empresas com altas pontuações ESG, e outras boas notícias simplesmente confirmaram os pré-conceitos do mercado.
Os pesquisadores levaram essa descoberta ainda mais adiante, perguntando como uma estratégia de investimento pode ser projetada para se beneficiar das habilidades de previsão das classificações ESG.
Primeiro, definiram qual dos três avaliadores ESG em sua amostra conseguiu prever com maior precisão as notícias ESG futuras – e descobriram que o índice MSCI foi o mais certeiro. Em seguida, criaram um portfólio de investimento hipotético no qual compraram empresas cuja classificação MSCI ESG era alta e cujas classificações ESG da Sustainalytics e da Thomson Reuters eram comparativamente baixas. (Também fizeram o inverso, vendendo empresas cuja classificação MSCI era baixa e cuja média das outras duas classificações era alta.) Juntamente com a opinião forte do MSCI, o alto nível de discordância entre os avaliadores foi crucial para a estratégia uma vez que sugeriu que essas podem ser as empresas cujo desempenho ESG ainda não estava refletido nos preços das ações.
O portfólio realmente gerou alfa anualizado (ou seja, retornos acima do mercado) de 4,27%, indicando que a estratégia dos pesquisadores revelou um padrão real em torno das classificações ESG e da resposta por parte do mercado.
Um passo para mais credibilidade
Investidores com condições de se beneficiar rapidamente dessas discrepâncias sairão ganhando.
“A reclamação geral na indústria e no meio acadêmico é que as classificações ESG podem apresentar grandes discrepâncias entre si”, diz Yoon. “O que queremos dizer é que ‘é assim que é possível se beneficiar das classificações’”.
Mas a conclusão ainda maior, acrescenta Yoon, diz respeito ao debate mais amplo sobre como usar as classificações ESG – e se vale a pena usá-las.
“Descobrimos que as classificações ESG preveem notícias ESG futuras”, diz ele, e adianta que as descobertas aumentarão a credibilidade das classificações.
Katie Gilbert is a freelance writer in Philadelphia.
Serafeim, George, and Aaron Yoon. 2021. “Stock Price Reactions to ESG News: The Role of ESG Ratings and Disagreement.” Working paper.