Kellogg Insight - Dois fatores determinam o quanto a IA transforma a economia
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Economics mai. 1, 2023

Dois fatores determinam o quanto a IA transforma a economia

Também ditarão o grau de sucesso dos trabalhadores.

robot waiter serves couple in restaurant

Jesús Escudero

Based on the research of

Benjamin F. Jones

As mais recentes ferramentas de inteligência artificial, incluindo modelos de linguagem como ChatGPT-4 e geradores de imagem como Stable Diffusion, têm surpreendido o mundo todo. Sem dúvida, a IA pode estar prestes a desestabilizar muito do setor de conhecimentos e, de fato, a economia em geral.

Poderia é a palavra-chave aqui, pois ainda é muito cedo para saber o que acontecerá. Entretanto, temos onde procurar pistas. Afinal de contas, não é a primeira vez que tarefas executadas por humanos são substituídas por máquinas.

“Uma maneira de se pensar sobre a IA é como a continuidade do processo de automação, mas visa as tarefas mentais ou cognitivas que são comuns aos humanos ao invés das tarefas físicas”, diz Benjamin Jones, professor de estratégia da Kellogg.

Com base em dois de seus estudos recentes sobre automação, Jones apresenta cenários diferentes de como a IA pode transformar a economia. Ele realça dois fatores específicos que provavelmente determinarão o impacto da IA e como o trabalhador comum se sairá quanto a esta tecnologia.

Primeiro fator: Se a IA visará os gargalos na economia

O primeiro desses fatores é onde na economia os avanços acontecem. Se a IA abordar áreas que enfrentam gargalos de produtividade no momento, o impacto na economia será muito maior do que se isso não acontecer.

Compare, por exemplo, os históricos avanços na agricultura, onde há menos gargalos, com os da computação, onde há muitos.

Centenas de anos atrás, “você e eu seríamos, quase que com cem por cento de certeza, agricultores, porque quase todo mundo era”, diz Jones. Apesar do trabalho árduo para preparar a terra, cortar árvores, preparar o campo para plantio, regar, aplicar fertilizante e fazer a colheita, a maioria das fazendas produzia apenas o suficiente para alimentar as famílias que nelas trabalhavam, com talvez, se tivessem sorte, um pouco de sobra para vender na feira.

Nas economias avançadas de hoje, a agricultura é altamente automatizada e altamente produtiva. Existem máquinas que nivelam a terra e fazem a irrigação, máquinas que plantam sementes em fileiras perfeitas e máquinas que aplicam a quantidade exata de fertilizante necessária. Uma colheitadeira moderna consegue processar mais de 40.5 hectares por dia. “Produzimos mais alimentos do que nunca, mas quase ninguém mais é agricultor” devido à automação moderna, diz Jones. Estimativas recentes sugerem, por exemplo, que apenas cerca de 1,3% dos trabalhadores americanos trabalham em fazendas.

De certo modo, essas máquinas eram incríveis matadoras de empregos. Porém, como a agricultura moderna é muito mais produtiva, alimentos ficaram bem mais acessíveis para todos. “Então, libertamos o trabalho manual para não precisarmos ser agricultores, para que as pessoas pudessem migrar para outros empregos”, diz ele. “Há um processo de agitação da economia, que destrói muitos empregos, cria novos tipos de empregos e faz com que as pessoas passem para novos papéis em uma economia mais produtiva, na qual as pessoas são, em média, consideravelmente mais ricas e vivem mais tempo”.

Passemos agora para outro avanço tecnológico: a computação. Antes de a IBM lançar o computador mainframe em 1952, os “computadores” humanos realizavam o trabalho exigente de processamento de números. Desde então, evidentemente, as máquinas assumiram o controle, com um resultado espetacular. A Lei de Moore, que afirma que o número de transistores em um microchip dobra a cada dois anos ou mais, provou ser verdade por quase 80 anos e levou a inovações que transformaram a vida de todos, indo da internet para os smartphones e aplicativos como o Zoom. “É possível fazer uma chamada de vídeo sentado no banco de trás de um táxi com um familiar que está a 10 mil quilômetros de distância. Isso era inimaginável para as pessoas em 1980”, diz Jones.

Porém, desde que Moore fez sua famosa previsão, algo estranho aconteceu: “O crescimento da produtividade tem sido extraordinariamente lento”, diz Jones. Apesar dos avanços impressionantes no poder de computação, a economia não ficou muito mais produtiva, nem os padrões de vida aumentaram drasticamente.

Para entender essa contradição, diz Jones, “é preciso aprender algo muito importante sobre como as economias crescem: o que realmente importa é em que somos ruins”. Ou seja, a produtividade não depende da eficiência da economia no seu melhor grau, mas sim, no seu pior.

Muitas tarefas na agricultura são rotineiras e altamente repetitivas, ou seja, fáceis de automatizar. Isso significa que a indústria conseguiu aumentar drasticamente a produtividade sem muitos gargalos: os processos mais lentos e “piores” ainda acabam sendo bastante rápidos.

Por outro lado, embora o poder de computação tenha aumentado exponencialmente, muitas vezes está a serviço de tarefas mais cognitivas e personalizadas, como serviços jurídicos. Estes têm sido historicamente mais difíceis de automatizar, criando muitos gargalos. Afinal, não importa a rapidez do computador se cada produção tiver que ser gravada ou verificada manualmente.

E não são apenas os serviços profissionais que estão cheios de gargalos. Considere a quantidade de tempo e esforço que leva para se viajar por todo o país, ou cozinhar uma refeição, ou consultar o médico, ou gerar uma unidade de eletricidade. Tudo isso realmente não mudou muito em cinquenta anos porque, por alguma razão ou outra, há gargalos.

Os gargalos não apenas retardam o crescimento em um determinado setor: eles afetam desproporcionalmente toda a economia. À medida que uma tarefa se automatiza e se torna mais produtiva, ela encolhe em termos de participação na economia. Isso porque a produção se torna onipresente e barata. Enquanto isso, são as tarefas menos produtivas - os gargalos - cuja parcela da economia aumenta com o passar do tempo. Isso significa que, eventualmente, a maior parte da economia é dedicada a setores que não aumentam em produtividade. É aqui que a maioria das economias avançadas se encontra hoje.

O quanto a IA transformará a economia, então, depende da medida em que ela pode aumentar a produtividade nessas partes improdutivas e caras da economia, como saúde, educação, hospitalidade, transporte ou eletricidade. Veículos autônomos ou robôs que façam tarefas domésticas, por exemplo, podem liberar consideravelmente o trabalho humano, como os avanços nas máquinas agrícolas fizeram para os agricultores. Da mesma forma, usar a IA para que médicos ou educadores individuais possam ser muito mais produtivos também poderia ajudar a aliviar esses gargalos.

Para que esse tipo de automação realmente mude o jogo, a IA “não pode ser apenas o próximo smartphone”, diz Jones. Afinal, temos o smartphone, que melhorou determinadas tarefas cognitivas, como se movimentar em uma cidade ou recuperar informações, mas não modificou a produtividade o suficiente. Ao contrário, a IA “tem que ir além disso se quiser realmente dobrar a curva da produtividade”.

Há uma razão para acreditar que isso seja possível. “Considerando a IA uma tecnologia cognitiva orientada para muitos serviços, acredito que está direcionada para o setor da economia onde se encontram os gargalos”, diz ele.

Segundo fator: Se a IA executar tarefas cognitivas muito melhor do que os seres humanos

O segundo fator que determinará o impacto da IA na economia é se ela substituirá o trabalho humano por ser apenas um pouco melhor do que nós, ou drasticamente melhor.

Se a IA é boa o suficiente para substituir os seres humanos, mas não muito melhor do que isso (um cenário que é, pelo menos no curto prazo, plausível), isso é muito ruim para o trabalho realizado por humanos.

Considere um caixa automatizado em uma mercearia ou um robô que atenda o cliente aos passageiros das companhias aéreas. Poucos afirmariam que essas tecnologias são muito superiores aos seus pares humanos. Muitas vezes, são um pouco piores do que os caixas ou agentes humanos. No entanto, são mais baratos, e as empresas provavelmente implementarão a solução de menor custo tolerada pelos clientes. Nesse cenário - onde a IA substitui o trabalho humano sem aumentar drasticamente a produtividade - o trabalho recebe uma parcela menor da renda e não vemos grandes ganhos nos padrões de vida.

Isso deixa muitos trabalhadores em uma situação pior, ao mesmo tempo em que não oferece muita vantagem à economia em geral.

Entretanto, há outro cenário mais otimista aqui. Se a IA realmente provar ser transformadora - por exemplo, permitindo que um único radiologista faça o trabalho de 15 radiologistas, e um único codificador faça o trabalho de 15 codificadores, e assim por diante - então podemos esperar uma explosão de crescimento econômico que permitirá que todos nós desfrutemos de um padrão de vida mais alto (mesmo que alguns radiologistas e codificadores precisem encontrar outros empregos). Isso será verdadeiro mesmo que as máquinas assumam a grande maioria dos empregos, desde que haja pelo menos algumas tarefas para as quais o trabalho humano seja necessário.

Para entender o porquê de tudo isso, lembre-se de como a parcela da economia dedicada aos gargalos sempre continuará a crescer, enquanto as tarefas que podem ser facilmente automatizadas diminuirão. Isso significa que, à medida que a automação assuma mais tarefas, as tarefas não automatizadas restantes aumentarão em importância e os humanos serão melhor remunerados para realizá-las. E neste cenário de “crescimento explosivo”, a economia se expandirá tão rapidamente que essas tarefas pagarão muito bem.

Considere que os violoncelistas de hoje não são mais produtivos do que os violoncelistas do século XVII. Tocam as mesmas obras musicais, até mesmo os mesmos instrumentos, e a demanda por seu trabalho só diminuiu à medida que outras formas de entretenimento surgem. “Assim, por que eles recebem um valor 20 vezes maior pelo seu trabalho em termos reais?”, Diz Jones. A resposta é que “de certo modo, o violoncelista é o gargalo”. Ou seja, a produtividade do violoncelista não aumentou, mas como tantas outras partes da economia aumentaram (e, portanto, o custo relativo de tantas outras coisas diminuiu), o violoncelista consegue desfrutar de um padrão de vida mais elevado.

É por isso que Jones espera ter um "mundo onde os seres humanos fazem uma parte muito pequena das tarefas, mas fazem alguma coisa, e os computadores ficam infinitamente bons em tudo o mais", diz Jones. “Se ficarmos superprodutivos com as máquinas, é como se fôssemos todos violoncelistas”.

Featured Faculty

Gordon and Llura Gund Family Professor of Entrepreneurship; Professor of Strategy

About the Writer

Jessica Love is editor in chief of Kellogg Insight.

About the Research

Jones, Benjamin F., and Xioaojie Liu. 2022. "A Framework for Economic Growth with Capital-Embodied Technical Change." NBER Working paper No. 30459.

Read the original

Aghion, Philippe, Benjamin F. Jones, and Charles I. Jones. 2019. "Artificial Intelligence and Economic Growth." In The Economics of Artificial Intelligence: An Agenda, edited by Ajay Agarwal, Joshua Gans, and Avi, Goldfarb. University of Chicago Press.

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