Kellogg Insight - Bateu indignação? Pense duas vezes antes de clicar em "Compartilhar".
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Organizations Policy dez. 1, 2024

Bateu indignação? Pense duas vezes antes de clicar em “Compartilhar”.

Um novo estudo mostra que a desinformação alimenta a indignação, que, por sua vez, leva a compartilhamentos irracionais nas redes sociais.

person angrily sharing social media misinformation

Yevgenia Nayberg

Based on the research of

Killian L. McLoughlin

William Brady

Aden Goolsbee

Ben Kaise

Kate Klonick

M.J. Crockett

A desinformação corre solta nas redes sociais e, com o surgimento da desinformação gerada por IA, a preocupação com sua influência aumenta cada vez mais.

Os formuladores de políticas, reguladores e outros interessados na moderação de conteúdo destinado ao público propõem vários métodos para combater ou evitar a disseminação de desinformação nas mídias sociais. Por exemplo, existem dicas de veracidade que lembram discretamente as pessoas para que fiquem atentas a informações enganosas. Há esforços para desmascarar a desinformação de frente. E existem métodos para se desmascarar a desinformação antecipadamente (prebunking) que abordam as falsidades já de antemão para ajudar o público a ficar resiliente à desinformação.

Em grande parte, essas estratégias se baseiam na ideia de que as pessoas geralmente se preocupam com as informações serem precisas, diz William Brady, professor assistente de administração e organizações da Kellogg School. No entanto, alguns tipos de conteúdo são particularmente adeptos a fazer com que a veracidade passe despercebida pelas pessoas.

“Há uma classe de desinformação à qual devemos prestar muita atenção”, diz ele, “devido ao próprio fato de que tende a nos colocar em um estado motivacional tão forte que é realmente impossível prestar muita atenção à veracidade do que se escuta. Essa desinformação é a do tipo que evoca indignação moral”.

A relação entre desinformação e indignação e como ela afeta o comportamento das pessoas nas mídias sociais é objeto de uma nova pesquisa de Brady e seus colegas Killian McLoughlin, Ben Kaiser e M.J. Crockett, de Princeton; Aden Goolsbee, de Yale; e Kate Klonick, da St. John's University.

Em dez estudos onde analisaram mais de um milhão de postagens em mídias sociais, os pesquisadores descobriram que há maior probabilidade de a desinformação desencadear um nível mais alto de indignação do que as notícias confiáveis.

A indignação, por sua vez, leva as pessoas a compartilhar ou repassar as postagens de mídia social muitas vezes enganosas. E elas fazem isso sem sequer ler o artigo vinculado ao post, mesmo que usem do discernimento em identificar desinformação em outras áreas.

“Na verdade, descobrimos que isso não quer dizer que as pessoas sejam terríveis em discernir entre desinformação e notícias confiáveis", diz Brady. “Porém, se receberem um artigo que evoque indignação com desinformação, desaparece a habilidade de discernimento que elas têm; elas são mais propensas a compartilhar o artigo de qualquer maneira”.

Desinformação e indignação

Nessa pesquisa, Brady e colegas realizaram oito estudos observacionais em duas plataformas de mídia social, durante períodos distintos (2017 e 2020–2021) e redes semelhantes de pessoas. Examinaram 1.063.298 postagens no Facebook e 44.529 tweets de 24.007 pessoas no X (na época do estudo, conhecido como Twitter) sobre uma variedade de tópicos. Cada post continha um link que levava a um artigo de notícias.

Os pesquisadores categorizaram uma postagem como desinformação se o link viesse de uma fonte de notícias de "baixa qualidade" conhecida por produzir conteúdo falso ou enganoso, com base em relatórios de organizações independentes de verificação de fatos.

Por outro lado, os autores consideravam um post confiável se classificado como proveniente de uma fonte de "alta qualidade". As fontes que eles classificaram como desinformação eram seis vezes mais propensas a produzir conteúdo que tenha sido confirmado como falso ou enganoso.

Os pesquisadores também realizaram dois experimentos, com cerca de 1.500 participantes, que visavam avaliar a veracidade de vinte manchetes de notícias ou a probabilidade de os participantes compartilharem as notícias.

"Todos esses fatores, quando juntos, abrangem uma ampla gama de dados que diferenciam o estudo", diz Brady. “Os propósitos da pesquisa eram muito ambicioso”.

Pensamento de grupo

Por meio desses testes, foram feitas três descobertas notáveis sobre desinformação nas mídias sociais.

Primeiro, "é altamente provável que a desinformação evoque indignação moral, em grau ainda maior do que informações precisas em termos factuais", diz Brady.

Foi mais provável que a desinformação e não as notícias confiáveis levaram à indignação em ambas as plataformas de mídia social, independentemente do tamanho do público. No Facebook, a desinformação recebeu mais emojis de raiva do que as notícias confiáveis, enquanto que no X, estimulou mais comentários cheios de indignação, de acordo com a análise de sentimentos feita por aprendizado por máquina.

Em segundo lugar, quando as pessoas se sentem indignadas com as notícias nas mídias sociais, ficam mais propensas a compartilhá-las com outras pessoas. “Combinada com o contexto das mídias sociais, a indignação tende a colocar as pessoas em um tipo de modo de compartilhamento impulsivo", diz Brady.

Isso é verdade independentemente de a postagem conter ou não desinformação. As pessoas estavam mais propensas a compartilhar uma postagem no Facebook quanto mais reações de raiva ela recebesse, e estavam mais propensas a retuitar/repassar uma postagem X quanto mais indignação ela provocasse nos comentários.

E, por fim, a indignação aumenta a disposição das pessoas de compartilhar postagens sem verificar a sua veracidade.

Quanto mais reações de raiva uma postagem no Facebook tinha, mais pessoas estavam dispostas a republicar a notícia sem lê-la. O efeito foi mais forte para postagens vinculadas a informações incorretas do que para fontes confiáveis.

Vale a pena ressaltar que um dos estudos comportamentais confirmou que as pessoas eram capazes de discernir corretamente entre notícias confiáveis e desinformação, independentemente de quanta indignação ela evocasse. Em outras palavras, a indignação não necessariamente torna as pessoas menos capazes de detectar desinformação. Ao contrário, as pessoas parecem dispostas a ignorar a veracidade do conteúdo nas mídias sociais quando se sentem indignadas, em parte porque o sentimento as coloca em uma "mentalidade de identificação de grupo".

“Quando estamos em um contexto em que nossas identidades de grupo político se tornam salientes, isso começa a nos fazer pensar mais em nós mesmos em termos da indignação do grupo do que em termos de nós mesmos", diz Brady. “É por isso que as pessoas pensam menos sobre veracidade e ficam mais propensas a expressar indignação em nome do grupo”.

Contramedidas

Uma das implicações dessas descobertas é que muitas das medidas existentes para reduzir ou combater a desinformação nas mídias sociais, como lembretes sobre a veracidade de algo, podem ser menos eficazes quando se trata de conteúdo que desperta a indignação.

Ao contrário, os resultados mostram que as pessoas muitas vezes estão dispostas a compartilhar desinformação nas mídias sociais, especialmente quando isso evoca indignação devido à sua afiliação política ou postura moral. Elas sempre puderam se defender alegando que pretendiam apenas destacar que o conteúdo seria "ultrajante se fosse verdade", segundo os pesquisadores. Dessa forma, as pessoas podem explorar a desinformação causadora de indignação para obter mais engajamento ou visibilidade nas mídias sociais.

Mesmo as pessoas que discordam da desinformação que veem nas mídias sociais podem, sem querer, estar ajudando a promover o conteúdo simplesmente interagindo com ele, observa Brady. "O ecossistema de desinformação não é apenas impulsionado pelo comportamento do usuário, mas é também impulsionado por algoritmos", diz ele. “Quando uma pessoa se envolve com desinformação - mesmo que não concorde com o que ela representa - ela está na verdade contribuindo para o aumento da desinformação no ecossistema, porque ela informa ao algoritmo que está atraindo engajamento".

Para os formuladores de políticas, a pesquisa oferece evidências concretas que precisam ser consideradas ao projetar soluções relativas à desinformação. Este é um aspecto que se torna especialmente importante quando a política se torna o centro da atenção.

"A moderação de conteúdo sempre se torna um grande problema durante as campanhas políticas", diz Brady. "Se desejar prever qual a desinformação que mais provavelmente se espalhe por uma rede, é preciso medir o potencial dessa desinformação de provocar indignação entre os grupos políticos... porque essa é a desinformação que mais se espalha e para a qual as pessoas não prestam muito atenção".

Featured Faculty

Assistant Professor of Management and Organizations

About the Writer

Abraham Kim is the senior research editor at Kellogg Insight.

About the Research

McLoughlin, Killian L., William J. Brady, Aden Goolsbee, Ben Kaise, Kate Klonick, and M. J. Crockett. 2024. “Misinformation Exploits Outrage to Spread Online.” Science.

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