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James Farley/Booz, Allen & Hamilton Research Professor; Professor of Managerial Economics & Decision Sciences
Lisa Röper
Em nosso mundo polarizado, pode ser estressante tomar uma posição pública sobre uma questão política, especialmente se acredita que sua visão pode não ser a preferida nos seus círculos sociais.
Assim, o que leva alguém a compartilhar uma opinião discordante? Em um novo artigo, Georgy Egorov, professor de economia gerencial e ciências da decisão na Kellogg School, e colegas analisaram como as chamadas lógicas podem influenciar resultados.
As lógicas são narrativas que apoiam um ponto de vista específico que pode emergir organicamente ou ser trazido à tona por atores políticos, movimentos sociais e meios de comunicação. Às vezes, são uma tentativa de persuadir pessoas para tomar uma posição sobre os méritos do tema. No entanto, mais frequentemente, funcionam como uma cobertura social, uma forma de fazer o desagradável parecer aceitável. É na verdade menos um argumento real e mais uma justificativa para uma preferência preexistente, e algo que tem o benefício de parecer razoável para as outras pessoas.
Imagine uma pessoa que adora abacaxi na pizza e que, ao pronunciar essa opinião extremamente controversa, publica um artigo sobre os diversos benefícios do abacaxi para a saúde. Esse fundamento lógico de saúde não tem nada a ver com a preferência da pessoa, mas pode fazer com que ela se sinta menos envergonhada para admitir e incentivar outros fãs de abacaxi em pizza a também expressarem sua opinião favorável sobre a fruta.
No artigo, Egorov e seus colegas descobrem que as lógicas tornam as pessoas mais propensas a compartilhar opiniões que, se não fosse assim, manteriam privadas. Além disso, as lógicas conseguem mudar a forma como o público interpreta opiniões discordantes. Especialmente quando as pessoas usam o fundamento lógico para compartilhar posições que podem ser atribuíveis ao preconceito, o público é menos propenso a fazer essa conexão desfavorável.
"As pessoas falam abertamente e expressam suas preferências dependendo do que pensam sobre o público no qual se encontram e por quem acham que o grupo é formado", diz Egorov. “O que nosso artigo mostra é que as lógicas, ou coberturas sociais, desempenham um papel importante ao permitir que as pessoas compartilhem pontos de vista não divergentes de seu público.”
Egorov realizou a pesquisa com Leonardo Bursztyn da Universidade de Chicago, Ingar Haaland da Universidade de Bergen, Aakaash Rao da Universidade de Harvard, e Christopher Roth da Universidade de Oxford. Começaram observando esforços para reduzir a verba destinada à polícia nos Estados Unidos. Escolheram esse tópico específico porque, apesar da popularidade do slogan "desfinanciar a polícia," pesquisas de opinião pública sugerem que apenas 25% dos eleitores democratas apoiam o corte de orçamentos da polícia onde vivem.
No entanto, os pesquisadores revelam que uma vez que o movimento de desfinanciamento esteja alinhado com preocupações sobre injustiça racial, "parece ... plausível que muitos liberais não se sintam confortáveis em expressar publicamente oposição ao corte de verbas". Poderia um fundamento lógico fazer com que isso ficasse menos desconfortável?
Para descobrir se isso é verdade, os pesquisadores recrutaram um grupo de 1.122 democratas e democratas independentes, todos com contas ativas no Twitter e concordaram em instalar um aplicativo com permissão para enviar tweets de suas contas.
Como parte do experimento, os participantes receberam um editorial do The Washington Post em que o autor, um criminologista da Universidade de Princeton, argumentou contra o financiamento da polícia, citando um grande conjunto de provas que mostra que o aumento do policiamento diminui o crime violento.
Depois de ler o editorial, foi perguntado aos participantes se participariam de uma campanha privada para se opor ao financiamento da polícia. Cerca da metade respondeu que não. Os 529 participantes que concordaram em aderir à campanha continuaram no estudo e, mais importante, receberam novamente o mesmo artigo.
Esses participantes foram divididos em dois grupos e receberam com um de dois tweets. Para alguns participantes, que os pesquisadores chamam de grupo sem cobertura, o tweet dizia: “Entrei em uma campanha em oposição ao financiamento da polícia. Após entrar na campanha, recebi este artigo escrito por um professor de Princeton sobre a forte comprovação científica de que a retirada da verba da polícia aumentaria o índice de crimes violentos”, seguido por um link para o editorial. No grupo com cobertura, o tweet indicava que o participante tinha visto o artigo antes de ingressar na campanha. Em seguida, os participantes tiveram que responder se queriam ou não postar o tweet.
Ambas as versões do tweet eram precisas – os participantes viram o editorial antes e depois de concordar em participar da campanha – porém transmitiram mensagens sutilmente diferentes. O tweet no grupo de cobertura implicava que os participantes poderiam ter sido persuadidos a participar da campanha devido a evidências científicas convincentes no artigo, enquanto que o tweet para o grupo sem cobertura sugeria que eles já se opunham a custear a polícia antes de ler o artigo.
Essa diferença de uma palavra influenciou consideravelmente a boa vontade dos participantes em expressar oposição ao desfinanciamento da polícia, concluíram os pesquisadores. No grupo com cobertura, 70% dos participantes autorizaram o tweet, em comparação com 57% no grupo sem cobertura.
Em um segundo experimento, os pesquisadores analisaram se as lógicas, como o argumento no editorial do The Washington Post, mudariam a forma como os tweets eram recebidos. Mais especificamente, os pesquisadores suspeitavam que a hesitação em se opor publicamente ao corte de verbas da polícia poderia ter surgido como resultado de preocupações sobre a aparência de preconceito racial, e assim queriam entender se fundamentos lógicos ofereceriam proteção contra essa percepção.
Um novo grupo de 1.040 democratas e independentes liberais foi recrutado e dividido em dois subgrupos, e foram informados que o grupo havia sido combinado com um participante de um estudo anterior. Em seguida, os participantes viram um tweet ostensivo do parceiro correspondente – seja um tweet do grupo com ou sem cobertura do experimento anterior.
Os pesquisadores disseram aos participantes que o parceiro teve a oportunidade de autorizar uma doação de US$5 para a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP) e, em seguida, pediram–lhes para adivinhar se o parceiro havia autorizado ou não a doação. Se os participantes acreditavam que o parceiro realizou uma doação para a NAACP, uma organização que luta pela equidade racial, isso sugeria acreditar que o parceiro não tinha preconceitos, apesar de sua oposição ao corte de verbas da polícia. Os participantes também foram questionados se deveriam autorizar um bônus de US$1 para o parceiro – uma medida de ver se sancionariam socialmente os participantes do Twitter por manter uma visão controversa entre os democratas.
O uso do artigo do The Washington Post como um fundamento lógico de fornecimento de cobertura mudou a forma pela qual os participantes interpretaram as motivações dos redatores de tweets. Entre os participantes que viram o tweet do grupo sem cobertura, apenas 27% adivinharam que seu parceiro havia doado para a NAACP, em comparação com 35% no grupo com cobertura. Consequentemente, 47% dos participantes do grupo sem cobertura recusou a doação de um bônus de US$1 ao parceiro, em comparação com 40% dos participantes do grupo com cobertura.
"O padrão ficou claro", diz Egorov. "Os participantes do primeiro experimento hesitaram mais para autorizar um tweet sem cobertura social porque tinham medo da punição social e estavam corretos. Eles provavelmente pensaram que isso sinalizaria preconceito racial de sua parte, e eles estavam corretos também. O comportamento da pessoa que postou o tweet e as reações do público – tudo isso se encaixa."
Os dois primeiros experimentos focaram na percepção intragrupo: ou seja, como os liberais percebem os colegas liberais que expressam opiniões discordantes. Para ampliar as descobertas, os pesquisadores decidiram estudar também as percepções dos grupos externos.
Nos próximos dois experimentos, os autores se concentraram em uma postura conservadora que é tabu para liberais e até mesmo alguns republicanos: a crença de que todos os imigrantes mexicanos que vivem no país ilegalmente devem ser deportados imediatamente.
Os pesquisadores usaram uma configuração idêntica ao primeiro experimento, recrutando um grupo de 1.130 republicanos e independentes de direita e apresentando–lhes um clipe do show de entrevistas Tucker Carlson Tonight, no qual o apresentador mostra estatísticas da Comissão de Sentenças dos EUA para argumentar que a imigração ilegal está ligada ao crime violento. Os 517 participantes que concordaram em expressar publicamente seu apoio à deportação imediata receberam um tweet indicando que viram o clipe de Tucker Carlson antes ou depois de concordar em aderir ao movimento.
Como antes, muito mais participantes no grupo com cobertura – 65% – autorizaram o envio do tweet, em comparação com 48% no grupo sem cobertura, sugerindo que os participantes acreditavam que esse tweet seria mais aceitável para o seu público específico.
Para ver como esses tweets seriam interpretados por um público externo, os pesquisadores recrutaram 1.082 democratas e independentes de esquerda – pessoas mais propensas a se opor fortemente à mensagem – e usaram a mesma configuração anterior.
Como os pesquisadores acreditavam que a relutância em apoiar abertamente a deportação derivava de preocupações sobre parecer anti-imigração, eles testaram se os fundamentos lógicos protegiam contra essa percepção. Como no estudo anterior, os participantes adivinharam se o parceiro havia autorizado uma doação para o Fundo de Ajuda à Criança em Crise na Fronteira dos EUA – uma organização que apoia crianças migrantes – e também escolheram autorizar ou negar um bônus de US$1 ao parceiro.
O uso de um fundamento lógico influenciou ambas as medidas de percepção do público, concluíram os pesquisadores. No grupo de cobertura, 13,4% dos participantes acreditavam que o parceiro havia doado para o fundo de ajuda, em comparação com 8,5% no grupo sem cobertura. Setenta e quatro por cento dos participantes do grupo de cobertura negaram um bônus ao parceiro, em comparação com 80% no grupo sem cobertura.
Pode parecer surpreendente que os liberais atributariam credibilidade a um clipe do Tucker Carlson como fundamento lógico. No entanto, é importante lembrar que "fundamentos lógicos não precisam ser persuasivos", diz Egorov – só precisam convencer o público de que outra pessoa poderia ter sido convencida. O show de Carlson é popular e fácil de encontrar, e é possível imaginar uma pessoa encontrar o clipe e ser influenciada por ele, mesmo que não seja você. Isso, por sua vez, torna mais fácil imaginar que a pessoa não é necessariamente anti-imigrante. Em outras palavras, explica Egorov, fundamentos lógicos “tornam mais difícil inferir as verdadeiras razões para manter uma determinada opinião. Eles introduzem ruído.”
Egorov acredita que a qualidade confusa dos fundamentos lógicos ajuda, em parte, a explicar o poder da desinformação online.
“Se pensar no papel das notícias falsas como não sendo tão persuasivas, mas como uma cobertura social, isso explica por que a desinformação pode ter poder para influenciar as pessoas sem persuadi-las”, diz ele. Há uma espécie de efeito bola de neve: postar informações erradas como um fundamento lógico torna mais aceitável expressar uma visão estigmatizada e incentiva outras pessoas a expressá-la também. Com o passar do tempo, uma visão que uma vez pareceu marginal pode passar a ser uma tendência dominante.
A pesquisa também sugere uma possível solução. Vários sites de mídia social experimentaram rotular a desinformação como tal. Egorov e seus colegas sugerem que isso teria o efeito de mostrar ao público que a pessoa que compartilhou o texto original sabia que a informação era falsa e optou por compartilhá-la de qualquer maneira, possivelmente reduzindo o grau de cobertura social. E sem essa proteção, as notícias falsas não são mais um bom fundamento lógico – constituem simplesmente falsidades.
Susie Allen is a freelance writer in Chicago.
Burszyun, Leonardo, Georgy Egorov, Ingar K. Haaland, Aakaash Rao, and Christopher Roth. 2022. “Justifying Dissent.” Working paper.