Innovation abr. 1, 2021
Não se esqueça do brainstorming – suas melhores ideias ainda estão por vir
A crença comum (e equivocada) de que geramos nossas melhores ideias logo no começo da sessão pode esmagar a criatividade.
Michael Meier
Imagine uma sessão de brainstorming em equipe. Em que ponto da reunião você acha que sua melhor e mais criativa ideia surgirá?
A maioria das pessoas presume que a eureca chegará imediatamente, quando ainda estiver revigorado. No entanto, segundo novas pesquisas, não é bem assim.
Em vários estudos, Loran Nordgren, professor de gestão e organizações na Kellogg School e o doutor pela Kellogg Brian Lucas, que agora trabalha na Cornell University, descobriram uma crença generalizada, persistente e equivocada de que a criatividade desaparece com o tempo. Chamam isso de “ilusão do precipício criativo”.
A dupla descobriu que a ilusão é autodestrutiva. Quanto mais as pessoas acreditam nessa crença, menos ideias criativas geram. Mas Nordgren e Lucas aprenderam que junto à experiência vem a sabedoria: pessoas que desempenham muito trabalho criativo não são vítimas frequentes do mito do declínio da criatividade.
“As pessoas acham que suas melhores ideias surgem de repente e logo no começo de uma sessão”, diz Nordgren. Na verdade, “não há queda na qualidade ou melhoria nas suas ideias”. Ao desistir cedo demais, corremos o risco de não concretizar nossas melhores ideias.
Nordgren acredita que, se chamarmos a atenção para o problema, podemos ajudar os demais a descobrir novas formas de pensar. “As pessoas não usam seu potencial criativo ao seu máximo e parte disso se deve a essas crenças errôneas”, diz ele.
A criatividade aumenta durante o brainstorming
Nordgren e Lucas recrutaram 165 participantes online que já haviam trabalhado em organizações beneficentes, para fazer uma sessão de brainstorming de cinco minutos. Antes de começar, os participantes foram instruídos a prever sua criatividade durante cada minuto da tarefa.
Em seguida, os participantes começaram a gerar ideias sobre como uma instituição de caridade poderia aumentar as doações. Para motivá-los, os pesquisadores disseram aos participantes que fariam parte de um sorteio de US$ 50 para cada ideia que tivessem.
Depois, Nordgren e Lucas recrutaram um novo grupo de participantes online para avaliar a criatividade das ideias geradas pelo primeiro grupo de participantes.
A análise dos pesquisadores revelou que os participantes do brainstorming deram previsões erradas sobre sua própria criatividade. Embora as pessoas acreditassem que se tornariam menos criativas com o decorrer da sessão, ocorreu o oposto: na verdade, a criatividade aumentou, segundo a avaliação do segundo grupo de participantes.
Confundindo produtividade com criatividade
Por que as pessoas em geral acreditam que terão menos criatividade quanto mais lutam com um problema?
Nordgren e Lucas suspeitaram que as pessoas confundem a criatividade com a facilidade em gerar ideias. Para muitos de nós, as primeiras ideias surtem rapidamente, enquanto que as ideias que despontam mais tarde na sessão parecem mais elusivas à medida que o brainstorming se transforma em uma paragem cerebral. Essa experiência de dificuldade pode facilmente ser interpretada de forma errônea como uma diminuição da qualidade das ideias.
Para testar a hipótese, os pesquisadores repetiram o mesmo estudo, recrutando 191 novos participantes. Desta vez, no entanto, os participantes previram a criatividade somente depois de já terem terminado de gerar ideias.
Os resultados foram idênticos. Mesmo depois da tarefa de brainstorming, os participantes julgaram incorretamente suas ideias posteriores como menos criativas – os pesquisadores raciocinaram que essas ideias eram mais difíceis de acessar. No entanto, como no primeiro estudo, o oposto era verdadeiro: as ideias que demoravam mais para serem extraídas tinham maior probabilidade de serem verdadeiramente inovadoras.
Não tem graça nenhuma: Falsas crenças sobre criatividade nos tornam menos criativos
Em outro estudo, Nordgren e Lucas colocaram a ilusão do precipício criativo à prova em um cenário do mundo real. Eles recrutaram alunos e formandos do programa de treinamento do The Second City para participar de um concurso de legendas de desenho animado ao estilo nova-iorquino com a recompensa de US$150 para o primeiro lugar. A competição online foi julgada por três comediantes profissionais, que avaliaram 91 amostras quanto à originalidade e humor (representando a criatividade).
Os participantes do concurso tiveram 15 minutos para gerar o maior número de legendas possível, mas não foram obrigados a trabalhar o tempo todo. Os participantes também responderam diversas perguntas sobre o que acreditavam ser criatividade, como “As pessoas tendem a gerar suas melhores logo no começo de uma sessão”.
Os pesquisadores descobriram que aqueles que acreditavam que as boas ideias aparecem no início, de forma geral enviaram menos piadas e poucas das piadas enviadas foram classificadas como altamente criativas pelos juízes. Em outras palavras, quanto mais acreditavam que sua capacidade de criar piadas desapareceria dentro de 15 minutos da tarefa, menos produtivas e engraçadas elas realmente eram.
A experiência como combate da ilusão do precipício criativo
A experiência pode ir contra a ilusão do precipício criativo? Os pesquisadores acreditam que sim. É possível que pessoas com muitos anos de experiência com trabalho criativo podem ser menos suscetíveis ao mito.
Os pesquisadores recrutaram um grupo de 163 participantes online e pediram para que eles avaliassem a frequência que tinham que usar habilidades criativas em seu trabalho (com opções de nunca, às vezes ou frequentemente como resposta). Os participantes realizaram a mesma tarefa de brainstorming usada no primeiro estudo – prever a criatividade durante cada minuto da tarefa de cinco minutos e, em seguida, apresentar ideias para melhorar as doações caridosas.
Os participantes que nunca ou apenas ocasionalmente fizeram um trabalho criativo eram muito parecidos com os participantes do primeiro estudo: previram que a criatividade diminuiria ao longo da tarefa de brainstorming, quando na realidade o oposto foi verdadeiro.
Os participantes com muita experiência criativa não cometeram o mesmo erro. Eles previram que a criatividade permaneceria relativamente constante – uma crença que ainda é excessivamente pessimista, porém mais próxima da resposta correta do que as previsões da maioria dos outros participantes. A experiência os ajudou a enxergar o poder de continuar a solucionar o problema.
“Na verdade, são as pessoas que estão com a mão na massa realizando trabalho criativo que aprendem essa lição”, diz Nordgren.
O poder da persistência
O que isso significa para sua próxima reunião de brainstorming? Para Nordgren, é uma conclusão simples.
“Se está tendo dificuldades, não desista”, diz ele. Essa conclusão e suas pesquisas anteriores sobre criatividade revelam que “nossas intuições sobre o funcionamento desse processo estão erradas, assim como a ideia de que nossas melhores sugestões já foram trazidas à tona. Basta explorar mais”.
Pode significar que devemos resistir à tentação de selecionar uma ideia só porque a reunião acabou – uma tentação enraizada na falsa crença de que as ideias futuras serão piores. Ao contrário, “talvez você diga: “Acho que ainda há ideias melhores que não encontramos até agora. Seria uma boa ideia trabalharmos mais uma hora nessa tarefa individualmente e discutirmos na próxima semana”.
Isso não é fácil de fazer e Nordgren, que está escrevendo um livro, sabe de primeira mão. Porém, ele está empenhado em seguir seus próprios conselhos. “Essas ideias são influentes naqueles momentos”, diz ele. “Vou pensar, “este é um exemplo muito bom, mas há algo melhor?” É um empurrãozinho para ir além do que minha intuição me sugere.”
Susie Allen is a freelance writer in Chicago.
Lucas, Brian, and Loran Nordgren. 2020. “The Creative Cliff Illusion.” Proceedings of the National Academy of Sciences.