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Professor of Psychology, Weinberg College of Arts & Sciences; Professor of Management & Organizations
Yevgenia Nayberg
Os recém-casados devem tomar uma série de decisões que podem afetar a trajetória do casamento: onde morar, ter filhos ou não, como dividir o trabalho doméstico.
Porém, entre as discussões mais importantes que os pombinhos podem ter é como tratar da sua vida financeira. Pode ser uma conversa bastante difícil, já que pesquisas indicam que o dinheiro é uma das principais causas de discussões entre parceiros.
Uma nova pesquisa do professor da Kellogg School Eli Finkel mostra uma maneira pela qual os casais podem ajudar a proteger seu relacionamento durante os primeiros anos cruciais do casamento: abrindo uma conta bancária conjunta, sem manter outras contas separadas.
Já é bastante comum ter contas bancárias conjuntas, e uma boa maioria de casais héteros nos países ocidentais relatam ter apenas contas bancárias conjuntas (52–65%). Ainda assim, 10–15% contam manter contas completamente separadas, enquanto o resto usa uma combinação de contas conjuntas e separadas.
O estudo, liderado por Jenny Olson, da Universidade de Indiana, e que será em breve publicado no Journal of Consumer Research, é o primeiro experimento longitudinal a mostrar que a forma como os casais estruturam suas contas bancárias influencia a qualidade de seu relacionamento ao longo do tempo. Finkel, Scott Rick, da Universidade de Michigan, e Deborah Small, da Universidade de Yale, também colaboraram na pesquisa.
Os pesquisadores determinaram que uma conta bancária conjunta pode ajudar os casais a alinhar seus objetivos financeiros e aderir às normas da vida a dois, em vez de se comportar de maneira mais transacional. Se todo o dinheiro é dinheiro de todos, então os parceiros não precisam ficar competindo um com o outro.
“Entender como a estrutura de contas bancárias afeta os casamentos tem sido um dos principais tópicos com poucos estudos”, diz Finkel. “Considera-se os primeiros anos do casamento a ‘prova conjugal’. A dinâmica que os casais desenvolvem nesses anos prevê como o relacionamento progredirá futuramente. Queríamos aproveitar esse período crucial e ver se poderíamos usar a estrutura das contas bancárias para alterar o grau de satisfação dos casais em seus relacionamentos. E descobrimos ser algo possível”.
Os primeiros anos de um casamento são fundamentais para o seu sucesso. Pesquisas mostram picos de qualidade de relacionamento alto no dia do casamento e, em seguida, começa um longo período de declínio que pode ser especialmente íngreme nos primeiros anos.
A equipe de pesquisa procurou compensar esse declínio. Estudos anteriores mostraram uma ligação entre ter conta bancária conjunta e se ter um relacionamento de melhor qualidade. É possível que os casais com uma conta compartilhada podem pedir para o outro levar em consideração como o que compra afeta o parceiro ou pode facilitar a transparência quanto às finanças.
Porém, os estudos anteriores mostraram apenas correlação, não causalidade. Para saber se contas bancárias conjuntas ou separadas podem afetar diretamente a qualidade do relacionamento ao longo do tempo, a equipe de pesquisa recrutou 230 casais héteros que estavam noivos ou recém-casados e que no momento cada parceiro tinha sua própria conta bancária.
A seguir, atribuíram aleatoriamente esses casais a uma das três condições de estrutura de conta bancária. Alguns casais foram instruídos a mudar suas contas individuais para uma conta conjunta. Outros foram instruídos a manter as contas separadas. E um terceiro grupo foi informado de que poderia criar ou manter a estrutura de conta que preferisse.
Depois disso, a equipe de pesquisa acompanhou esses casais durante a prova conjugal, examinando os parceiros separadamente a cada três meses durante o primeiro ano e, depois, novamente ao final de dois anos. Para entender a qualidade do relacionamento do casal, os pesquisadores mediram a satisfação do casal, as táticas de conflito (quantas vezes eles erguiam a voz com seu parceiro, por exemplo) e como era a qualidade das interações do casal. Para entender melhor a harmonia financeira do casal, a equipe de pesquisa fez com que cada parceiro indicasse o quanto concordavam com afirmações como “Meu parceiro está satisfeito com minhas atitudes em relação ao dinheiro”. Em seguida, a equipe analisou as respostas combinadas dos casais para determinar a qualidade do relacionamento e a harmonia financeira ao longo do tempo.
No início do experimento, os casais nos três grupos apresentavam níveis semelhantes de qualidade do relacionamento.
No entanto, quando a equipe de pesquisa analisou as respostas dos casais ao longo de dois anos, encontraram grandes diferenças dependendo de como o casal estruturou sua conta bancária. Os casais designados para manterem as contas completamente separadas e aqueles deixados por conta própria mostraram declínios significativos na qualidade do relacionamento ao longo do tempo. (Dos casais no grupo sem intervenção, 72% mantiveram contas separadas durante todo o período.)
Os casais que colocaram todo o dinheiro em conta conjunta não exibiram os mesmos declínios. A qualidade do relacionamento foi mantida e mostraram maior harmonia financeira do que os outros casais.
“O efeito foi ainda maior do que eu esperava”, diz Finkel. “A maioria dos estudos mostra que a satisfação diminui gradativamente após o dia do casamento. Ficamos muito satisfeitos por termos conseguido obter uma amostra de recém-casados e mostrar que não apenas sua qualidade conjugal não diminuiu, mas também pode ter até aumentado um pouco. E não fizemos nada sobre como se conectar melhor ou ter melhor habilidade de comunicação. A estrutura da conta em si foi suficiente para manter as pessoas mais felizes durante todo o período de recém-casados.
Para melhor entender por que as contas conjuntas foram tão úteis para preservar a qualidade do relacionamento, a equipe de pesquisa realizou outro estudo que recrutou 507 pessoas casadas há uma média de 15 anos. Os participantes responderam a perguntas sobre situação bancária (se tinham contas conjuntas), harmonia financeira com o cônjuge (“Você está satisfeito(a) com a quantidade de dinheiro que você e seu parceiro gastam no dia a dia?”)
Os pesquisadores descobriram que as pessoas que tinha contas bancárias conjuntas com o/a parceiro/a apresentaram um senso mais profundo de metas financeiras alinhadas e maior adesão à norma da vida a dois. Pesquisas anteriores de Finkel mostram que casais que adotam normas da vida a dois mais fortes tendem a ser mais felizes em seus casamentos.
Embora haja evidências que sugerem que incentivar os participantes a terem contas bancárias conjuntas pode melhorar a satisfação conjugal, várias perguntas permanecem.
A equipe de pesquisa descobriu que ter uma conta parcialmente conjunta (criar uma conta conjunta enquanto mantém contas separadas) não apresentou aos mesmos benefícios dos que tinham contas conjuntas. No entanto, Finkel hesita em tirar conclusões importantes dessa descoberta e, em vez disso, sugere a necessidade de pesquisas futuras para aprofundar ainda mais sobre esse tema.
E enquanto as contas conjuntas beneficiaram os participantes do estudo, em média, tais benefícios podem não ser igual para todos. Uma conta conjunta exige que os parceiros desistam de um certo grau de independência. Aqueles que estão em circunstâncias preocupantes podem achar que suas finanças estão sendo controladas ou encontram-se em risco de comportamento abusivo.
“Também precisamos considerar situações em que as pessoas estão começando seu relacionamento ou finanças de forma mais precária”, diz ele. “Uma conta conjunta teria o mesmo efeito? Vale a pena para os casais correrem o risco de apostarem tudo ou nada? Esta pesquisa abriu uma série de questões adicionais que agora precisam ser exploradas”.
Emily Ayshford is a freelance writer in Chicago.
Olson, Jenny G., Scott I. Rick, Deborah A. Small, and Eli J. Finkel. 2023. "Common Cents: Bank Account Structure and Couples' Relationship Dynamics." Journal of Consumer Research.