Finance fev. 1, 2025
Quando a concorrência são as “superestrelas”
A entrada de um gigante corporativo como a Apple ou a Amazon em um novo mercado geralmente traz maus agouros para outras empresas do setor. Porém, isso não é regra constante.

Yifan Wu
Regina Wittenberg Moerman sente falta da Bed Bath & Beyond.
A empresa de vendas a varejo ,que já fez parte do rol da Fortune 500, famosa pelo super alto volume de estoque e cupons de grandes descontos, sucumbiu à concordata no início de 2023, em parte devido à falta de capacidade de competir com varejistas mais novos, como a Amazon.
Infelizmente, o destino da Bed Bath & Beyond não representa nada anormal. A concordata, muitas vezes, pode dizer respeito à concorrência de empresas com características de "superestrelas", que dominam um espaço de mercado devido ao tamanho, escala, inovação e diversos outros fatores.
“São empresas cujos produtos usamos todos os dias, da Apple à Nvidia e ao Facebook", diz Wittenberg Moerman, professora de contabilidade e gestão de informações da Kellogg. “Não podemos viver sem eles”.
Para um concorrente de pequeno porte, muitas vezes com menos experiência em tecnologia, a presença de uma empresa superstar pode ser uma péssima notícia. No entanto, as superestrelas podem também ter efeitos positivos, como observa a professora: "Elas promovem a inovação; elas forçam todos a fazer melhor".
Para entender o impacto de uma empresa superstar em outras empresas do mesmo setor, Wittenberg Moerman e os colaboradores Stephanie F. Cheng, de Tulane, Dushyantkumar Vyas da Universidade de Toronto, e Wuyang Zhao da McGill, examinaram os padrões de milhares de empresas norte-americanas de capital aberto entrarem em concordata.
Os pesquisadores descobriram que, em geral, as empresas que enfrentavam a maior concorrência de superestrelas apresentavam uma probabilidade 42% maior de falir em comparação com que as que não expostas a tais gigantes como concorrência. Entretanto, vários fatores, incluindo a inovação da empresa e o acesso ao crédito, mitigaram esse efeito negativo.
"As empresas que não conseguem se ajustar às superestrelas provavelmente vão falir ", diz Wittenberg Moerman. “No entanto, se tiverem ou poderem encontrar mecanismos de proteção, podem nem ser afetadas ou até se saírem bem".
Estudar as estrelas
Para estudar a influência das superestrelas, os pesquisadores analisaram uma amostra de empresas cujas ações eram comercializadas nas bolsas de valores nos EUA durante o período de 1988 a 2018.
“O principal desafio que encontramos foi como medir o efeito da exposição às superestrelas em nível de empresa", diz Wittenberg Moerman. Isso ocorre porque a maioria dos estudos econômicos anteriores mediu o impacto dos negócios dominantes no nível da indústria. Para enfrentar esse desafio, os autores do estudo combinaram vários modelos e abordagens diferentes de diversos estudos anteriores.
Por exemplo, seguindo sugestões obtidas junto a pesquisas anteriores, os pesquisadores definiram empresas superestrelas como aquelas que tinham cinco por cento do poder de mercado para os seus respectivos produtos, determinado ao se multiplicar a margem de lucro de uma empresa por suas vendas, e as que apresentaram um aumento no poder de mercado ao longo do tempo.
Outra parte do desafio foi que várias das empresas no estudo haviam sido expostas simultaneamente à concorrência de diversas superestrelas. Para isso, os pesquisadores mediram o grau de semelhança dos produtos de uma empresa com os das empresas superestrelas afins (novamente com base em estudos anteriores). “Quanto mais semelhantes forem os produtos aos de uma superestrela específica, mais peso a superestrela terá ao considerarmos tal exposição", diz Wittenberg Moerman.
Os pesquisadores também realizaram análises transversais nos registros empresariais de empresas de pequeno porte expostas a superestrelas. Essas análises permitiram que se avaliasse quais fatores as levaram à falência ou as ajudaram a resistir aos efeitos potencialmente negativos de tal exposição.
No total, observaram dados de mais de 110 mil anos de operações das empresas de forma coletiva.
Nem tudo está perdido
Os resultados sugerem boas e más notícias para empresas que enfrentam rivais superestrelas.
No geral, a alta exposição a superestrelas aumenta a probabilidade de concordata de uma determinada empresa. Empresas no top 10% de exposição às superestrelas apresentaram 42% maior probabilidade de falir do que as que não sofreram tal exposição.
No entanto, uma análise mais detalhada dos dados revelou que esse forte efeito negativo não se aplica a todos os contextos. Por um lado, quanto mais inovadora for uma empresa, maior será a probabilidade de ela sobreviver.
"Se for uma empresa sem orientação tecnológica, competir com superestrelas levará a empresa à falência", diz Wittenberg Moerman. “Porém, se for uma empresa que investe em P&D e desenvolve patentes, a probabilidade de ser afetada negativamente é menor".
Isso vale para empresas acostumadas à concorrência. “Se a empresa estiver em um setor com concorrência constante e desenvolvimento de produtos, ela está mais acostumada à pressão da concorrência e está menos propensa a ser afetada pela exposição a superestrelas", diz Wittenberg Moerman.
Empresas que fornecem serviços ou produtos para as superestrelas também apresentaram menor probabilidade de entrar em concordata, assim como empresas com maior acesso a crédito.
“Um bom acesso ao capital permite investir em mudanças na empresa, e permitirá responder de forma mais robusta às superestrelas", diz Wittenberg Moerman.
As superestrelas de amanhã?
Empresas de todos os setores podem usar os resultados desse estudo para entender melhor sua suscetibilidade a superestrelas e pensar em como se proteger.
Por um lado, as empresas de menor porte podem avaliar seus pontos fortes e fracos em termos de capacidade tecnológica, inovação, status de fornecedor e acesso ao crédito e, em seguida, tomar as medidas necessárias para fortalecer estes fatores. Se não for possível ficar mais afiadas nessas áreas, elas devem pelo menos reconhecer que provavelmente enfrentam uma batalha difícil.
Embora a concordata possa ser prejudicial para empresas individuais e as partes interessadas, os resultados do estudo, no entanto, não apontam necessariamente para a necessidade de um maior número de políticas para proteger as empresas de menor porte contra a exposição a superestrelas.
“Algumas pessoas podem interpretar nossas descobertas com a conclusão de que as grandes empresas colocam as pequenas empresas em posição de concordata", diz Wittenberg Moerman. “Porém, a verdade pode ser que elas colocam empresas ineficientes no caminho da falência. Não exploramos as consequências em termos de bem-estar [que podem levar à necessidade de mudanças nas políticas], porém, pesquisas futuras podem explorar o fato de as empresas superestrelas também terem a capacidade de ajudar as pequenas empresas no quesito de inovação”.
Afinal, toda empresa superstar foi uma "pequena startup em algum momento", diz Wittenberg Moerman. “E é daí que surgem as superestrelas de amanhã".
Sachin Waikar is a freelance writer based in Evanston, Illinois.
Cheng, Stephanie F., Dushyantkumar Vyas, Regina Wittenberg-Moerman, and Wuyang Zhao. 2024. “Exposure to Superstar Firms and Financial Distress.” Review of Accounting Studies.