Featured Faculty
Professor of Management and Organizations; Management and Organizations Department Chair
Riley Mann
Para a maioria de nós, o trabalho desempenha um papel central, porém de certa forma restrito em nossas vidas: é a forma como ganhamos nosso sustento e onde aprendemos novas habilidades. Não costumamos considerar o escritório como um lugar onde podemos crescer em termos de ética.
Esse é um pensamento errôneo, segundo Maryam Kouchaki , professora titular de administração e organizações da Kellogg School que estuda a tomada de decisões morais. Afinal, “muito do nosso tempo é gasto no trabalho”, diz Kouchaki. “Especificamente nos EUA, criamos uma cultura onde o trabalho representa uma parte significativa de nossa identidade. É ingênuo supor que há uma divisão entre a vida no trabalho e em casa”.
Na verdade, é no trabalho que existe mais probabilidade de encontrarmos dilemas morais e tentações para que nos comportemos de forma antiética: Você deve exagerar seu desempenho em um projeto bem-sucedido na hora de redigir sua avaliação de desempenho? Esticar a verdade para ter sucesso numa venda importante? Mudar um pouco a seu favor um relatório de despesas?
Embora existam muita pesquisa — algumas delas de autoria da própria Kouchaki — sobre como lidar com questões morais no trabalho, ela acredita que a conduta ética não é apenas responsabilidade individual. As organizações também devem desempenhar um papel importante.
Em um novo artigo, ela e Isaac H. Smith, da Universidade Brigham Young, argumentam que o local de trabalho pode e deve ser o local de aprendizagem ética contínua e estruturada. Eles propõem que as empresas tenham uma visão ampla e holística de treinamentos em ética que vai muito além de uma única sessão anual. “É importante considerar como agir de forma mais sistemática para realmente ajudar organizações e sociedades”, diz Kouchaki.
Os autores dizem que as empresas devem procurar se tornar “laboratórios morais” — uma frase que escolheram muito deliberadamente, explica Kouchaki. “Com laboratórios e experimentos, é preciso ter paciência e persistência e testar coisas diferentes”, diz ela. “Naturalmente, tenho em vista que é aceitável falhar e aprender com isso”.
Assim, como as organizações podem se transformar nos motores do crescimento moral imaginados por Kouchaki e Smith? Depois de analisarem os estudos sobre psicologia e comportamento organizacional, eles oferecem algumas recomendações sobre o tema.
Em vez de tratar a ética como um tópico distinto, as empresas devem se esforçar para integrá-la em todos os aspectos de sua cultura, tanto formal quanto informais. Com base no trabalho acadêmico sobre a ética nos negócios , Kouchaki e Smith sugerem incluir perguntas relacionadas à ética em entrevistas de emprego, delinear os valores da empresa durante a integração do novo funcionário, oferecer treinamento de ética específico para o trabalho e fazer com que a conduta ética integre as avaliações de desempenho.
O desenvolvimento de uma cultura ética não significa apenas dizer aos funcionários o que não fazer. As empresas podem oferecer prêmios para os funcionários que demonstrem integridade ou criar quadros de gratidão onde os funcionários podem elogiar e agradecer uns aos outros anonimamente. Essas medidas podem promover um ambiente onde predomine o comportamento positivo e pró-social e não a competição feroz.
Tudo isso requer o endosso total dos líderes executivos, Kouchaki e Smith afirmam. As pesquisas mostram que, para se criar e manter uma cultura ética, líderes são essenciais. A liderança ética — ou seja, líderes que se comportam eticamente e promovem o comportamento ético em suas equipes — têm demonstrado diminuir o desvio e aumentar o comportamento pró-social entre os funcionários.
Para que possam crescer moralmente, os funcionários devem sentir ser aceitável admitir seus erros. Isso só é possível em um ambiente psicologicamente seguro, onde correr riscos e pedir ajuda não sejam vistos como fraqueza. Segundo Kouchaki e Smith, os líderes podem cultivar a segurança psicológica ao admitir seus próprios erros, ao solicitar regularmente o feedback de toda a organização e lembrar proativamente aos funcionários que a ética é um processo de aprendizado.
As empresas também devem solucionar pequenos lapsos éticos de forma a promover o aprendizado e não o constrangimento. Pesquisas mostram que transgressores são mais propensos a evitar o comportamento antiético no futuro se sentirem culpa (um sentimento de ter causado danos a alguém) em vez de vergonha (um sentimento de que será visto negativamente pelas outras pessoas). Isso significa incentivar os funcionários que cometeram erros a se concentrarem na pessoa que foi prejudicada e como poderiam ter se comportado de maneira diferente, porém sem criticar quem eles são como pessoas.
Essas medidas permitem a organização a crescer junta. “Ao criar um ambiente psicologicamente seguro, as pessoas estarão dispostas a questionar, refletir e aprender em grupo – assim se aprende não apenas por meio do próprio julgamento, mas com o de outras pessoas”, diz Kouchaki.
A maioria de nós assume que faríamos a coisa certa em uma situação eticamente desafiadora. No entanto, muitas vezes, o problema é exatamente esse: o excesso de confiança moral está associado à incapacidade de admitir os próprios erros.
O simples aumento da conscientização dos funcionários sobre a tendência humana natural para a arrogância pode ajudar. “É importante auxiliar os trabalhadores a entender que o comportamento antiético no local de trabalho não é simplesmente o resultado de algumas maçãs podres, mas que todos nós somos capazes de falhas morais”, escrevem Kouchaki e Smith.
O treinamento de ética, muitas vezes focado nos prós e contras, pode ser ampliado para incluir informações sobre os tipos de situações em que as pessoas são mais propensas a se perderem e os tipos de justificativas comumente usadas ao se cometer infrações.
Os treinamentos também podem fornecer aos funcionários heurísticas claras e práticas para orientá-los em situações tentadoras, como o teste de publicidade (“Eu me sentiria confortável se o motivo para esta decisão fosse a manchete do jornal?”), o teste de generalização (“E se todos se comportassem assim?”) e o teste do espelho (“Quando eu me olho no espelho, terei orgulho de mim depois de tomar essa decisão?”).
Reflexão—o processo de refletir a respeito de um projeto ou experiência—apresentou melhoria na aprendizagem, especialmente quando combinado com feedback regular. Kouchaki e Smith sugerem que as organizações criem o máximo possível de oportunidades para a reflexão ética. “Isso apresentará oportunidade de se aprender com os sucessos e também com os fracassos”, diz Kouchaki.
Por exemplo, muitas empresas já fazem regularmente reuniões para debater o desfecho ao final de projetos importantes. As organizações podem adicionar um conjunto padrão de perguntas éticas a essas reuniões: Este projeto e o processo usado foram consistentes com nossos valores? Nos comprometemos eticamente? Alguém saiu prejudicado? Algumas empresas também têm projetos “pré-mortes” — uma oportunidade ideal para discutir antecipadamente os desafios éticos.
As organizações devem dar aos funcionários oportunidades para se engajar em oportunidades concretas de crescimento moral, como por exemplo, trabalho voluntário. A pesquisa mostra que dar aos trabalhadores a chance de servir aos outros, dentro ou fora da organização, acarreta efeitos positivos, como a superação do egoísmo, o desenvolvimento de maior responsabilidade social e a promoção de um foco externo.
Kouchaki e Smith citam o exemplo da Salesforce, onde os funcionários recebem sete dias pagos por ano para trabalho voluntário e são incentivados a doar seu conhecimento para organizações sem fins lucrativos em seu próprio tempo. Tais experiências e oportunidades não ajudam apenas no aprendizado ético, mas podem até mesmo promover o florescimento psicológico.
Por que as empresas devem se preocupar em gastar tanto tempo e energia com a ética? É um caso pragmático – “há evidências de que as empresas mais éticas têm funcionários mais felizes e elas mesmas se saem melhor no mercado”, ressalta Kouchaki – mas a autora também acredita que é a coisa certa a se fazer. “As empresas têm responsabilidades éticas para com as partes interessadas, que incluem funcionários e a sociedade no geral”, diz ela.
Felizmente, as organizações não precisam descobrir isso sozinhas. “Este artigo é uma forma de refletirmos sobre o que sabemos da literatura de pesquisa e aplicá-lo às organizações”, diz Kouchaki. E o artigo que escreveram está longe de ser o único trabalho nessa área. “Já existe muito trabalho na literatura acadêmica que pode orientar as empresas em suas tentativas de se tornarem mais éticas”.
Susie Allen is a freelance writer in Chicago.
Smith, Isaac, and Maryam Kouchaki. 2021. “Ethical Learning: The Workplace as a Moral Laboratory for Character Development.” Social Issues and Policy Review. 15(1): 277-322.