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Clinical Professor of Management & Organizations; Executive Director of Kellogg's Dispute Resolution and Research Center
Lisa Röper
Do complô da pizza na capital norte-americana às movimentações suspeitas, as teorias da conspiração volta e meia passam das margens para o centro da vida pública. Um estudo de 2014 estima que, em qualquer ano, cerca de metade dos americanos acreditam em pelo menos uma teoria conspiratória.
Embora algumas delas sejam relativamente inócuas, outras apresentam risco de vida. Durante o surto de ebola na África Ocidental em 2014, muitas pessoas passaram a acreditar que os profissionais de saúde que tentavam tratá-las estavam de fato infectando-as. Consequentemente, evitavam o tratamento médico oferecido.
Cynthia Wang assistiu fascinada à difusão do pensamento conspiratório - “Quem não se interessa por conspirações?”, diz ela - mas também preocupada com a questão. “Você começa a se perguntar o que faz com que as pessoas inventem explicações alternativas que às vezes parecem bizarras", diz Wang, professora clínica de administração e organizações da Kellogg School.
Pesquisas anteriores identificam vários atributos que predizem a disposição das pessoas em acreditar em teorias conspiratórias. Fatores como nível de estudo, narcisismo e até mesmo a facilidade com que alguém fica entediado podem estar relacionados a crenças de que, por exemplo, o governo tenta controlar a população pelo flúor que acrescenta à água.
No entanto, Wang e seus coautores tinham interesse em buscar os fatores subjacentes presentes na tendência à conspiração que poderiam ser mais maleáveis. Afinal de contas, não se pode mudar a personalidade ou a formação educacional das pessoas da noite para o dia.
“Queríamos realmente ver não só o que dá margem a essas percepções conspiratórias, mas também como detê-las”, explica ela. “O que as organizações podem fazer para impedir esse tipo de mentalidade? Assim, adotamos uma abordagem psicológica mais social”.
Em um novo artigo, Wang e seus coautores descobriram que as pessoas que demonstram o desejo de agir em busca de seus objetivos são menos propensas ao pensamento conspiratório. Os pesquisadores conseguiram incentivar os participantes a adotarem uma mentalidade orientada por objetivos, reduzindo assim sua suscetibilidade às teorias da conspiração.
"Este estudo é animador porque introduzimos um fator que fornece imunidade às percepções de conspiração por meio desse crescente senso de controle", diz Wang.
A verdade existe sim
Wang realizou a pesquisa juntamente com Jennifer Whitson, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Joongseo Kim, da Penn State-Erie, Tanya Menon, da Ohio State University, e Brian Webster, da Ball State University. Começaram se concentrando em algo chamado teoria do foco regulatório (RFT, na siga em inglês), que analisa como as pessoas alcançam seus objetivos.
A RFT propõe duas estratégias. As pessoas com uma orientação “focada na promoção” visam fazer tudo ao seu alcance para fazer com que suas esperanças e sonhos se realizem. Nesta mentalidade, os indivíduos acreditam poder moldar seu futuro, sugerindo que sentem um alto grau de controle sobre o ambiente no qual se encontram. Por outro lado, aquelas pessoas com uma orientação “focada na prevenção” agem diligentemente para proteger a segurança que já possuem.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que as pessoas focadas na prevenção podem ser mais propensas a acreditar em teorias da conspiração, pois as conspirações podem parecer ser uma ameaça à segurança. No entanto, a equipe suspeitava que as pessoas com foco na promoção seriam mais céticas.
Para testar a hipótese, recrutaram 278 participantes on-line, que receberam aleatoriamente uma de três solicitações de redação, concebidas para atraí-las em direção a uma mentalidade específica. Um grupo, focado em promoção, escreveu sobre uma esperança ou aspiração, outro grupo focado em prevenção escreveu sobre uma obrigação, e o terceiro grupo, neutro, escreveu sobre as atividades cotidianas de alguém que conheciam.
Em seguida, os participantes foram submetidos a um cenário fictício de um banco pedindo falência. Na conta, alguns observadores acreditavam que os executivos do banco agiram com má conduta, embora o governo não tenha encontrado nenhuma prova de que eles assim o fizeram. Depois de ler a história, os participantes responderam a uma série de perguntas aferindo se acreditavam na ocorrência de conspiração.
Finalmente, os participantes classificaram, em uma escala de um a cinco, sua crença em 10 diferentes teorias da conspiração da vida real - por exemplo, de que o governo dos EUA exige a troca das lâmpadas pelas fluorescentes porque tornam as pessoas obedientes e fáceis de controlar.
(Se isso parece ridículo para você, bem, você não está sozinho. Wang admite que achou muitos desses cenários engraçados. Mesmo assim, eles têm seguidores. "As opiniões são bem divergentes quanto a achar que o governo controla as pessoas por meio de lâmpadas fluorescentes", diz ela.)
Os resultados revelaram que os participantes do grupo focado na promoção eram menos propensos a endossar teorias da conspiração. Mas, ao contrário da hipótese dos pesquisadores, os participantes do grupo focado em prevenção não estavam mais propensos do que aqueles do grupo neutro quanto à tendência em usar chapéus de papel alumínio.
As forças armadas estão envolvidas!
Para o segundo estudo, os pesquisadores queriam se concentrar em uma população muito diferente para ver o quanto suas descobertas eram generalizáveis. Levaram seu estudo aos militares, pesquisando 202 soldados em uma base do exército dos EUA.
Os soldados responderam a um questionário que media o quanto focavam em promoção ou em prevenção, e outro que avaliava seu senso de controle pessoal ("O que acontece comigo no futuro depende de mim", por exemplo).
Em seguida, os homens e mulheres militares classificaram, em uma escala de um a sete, o quanto concordavam ou discordavam de um conjunto de declarações sobre conspirações nas forças armadas, como “Soldados são 'escolhidos' quando designados para as tarefas que devem realizar”.
Os pesquisadores descobriram que soldados com alto grau de foco em promoção também exibiam um forte senso de controle pessoal. (O foco em prevenção não estava relacionado ao senso de controle.) E, como no primeiro estudo, os soldados que relataram maior foco em promoção não eram tão propensos a serem influenciados pelas teorias da conspiração. A análise estatística revelou que o controle pessoal era o mecanismo provável detrás desse fenômeno. Em outras palavras, pessoas focadas em promoção são menos propensas à conspiração porque sentem um senso de agência no mundo.
Controle mental
Sendo assim, a manipulação desse senso de agência, por sua vez, poderia mudar a suscetibilidade da pessoa com relação às teorias da conspiração? Para descobrir, Wang e seus colegas recrutaram 215 estudantes universitários.
Os participantes foram primeiramente preparados para estar em um estado focado em promoção ou em prevenção. Em seguida, participaram de um segundo exercício para que se sentissem mais ou menos no controle. Finalmente, foram medidas suas crenças conspiratórias.
Para os participantes que foram primeiramente preparados para o foco em promoção - mas não aqueles preparados para o foco em prevenção - o sentimento de estar menos no controle causou um aumento no pensamento conspiratório.
Essa descoberta destacou a importância do controle pessoal na previsão do grau de probabilidade das pessoas com foco em promoção acreditarem em planos e conspirações sinistras. Essas pessoas, que normalmente teriam menor probabilidade de dar crédito às conspirações, podem se tornar instantaneamente mais suscetíveis quando sentem que têm menos controle.
Não acredite em ninguém
Para Wang, os três estudos mostraram que o pensamento conspiratório é algo que pode ser transformado. Se for possível aumentar a propensão à conspiração removendo o controle pessoal, é lógico que “é possível realmente mudar a mentalidade de pessoas para que vejam menos conspirações”, diz ela.
Esta é uma descoberta animadora em um mundo onde as conspirações se alastram cada vez mais. Por exemplo, Wang e seus coautores sugerem que organizações governamentais, como os Centros de Controle de Doenças, podem aumentar a confiança do público através da promoção de mensagens que enfatizem as formas pelas quais os indivíduos controlam seus resultados de saúde.
Em pesquisas futuras, Wang espera entender os efeitos do pensamento conspiratório. Por exemplo, as pessoas que acreditam em teorias conspiratórias são mais propensas à agressão?
Também quer estudar a capacidade das pessoas de distinguir conspirações reais e falsas. O ceticismo em instituições poderosas é saudável e, às vezes, justificado: afinal, Richard Nixon estava realmente por trás do escândalo Watergate.
“As pessoas são capazes de diferenciar as conspirações reais das conspirações falsas?" Wang se pergunta. Particularmente na era das “notícias fake”, se as pessoas puderem detectar abusos de poder autênticos, “isso seria algo importante para beneficiar a sociedade”.