Kellogg Insight - Conheça o (surpreendentemente racional) consumidor da era COVID
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Economics nov. 2, 2020

Conheça o (surpreendentemente racional) consumidor da era COVID

Pesquisas sobre compras de produtos de consumo no início da pandemia mostram que as pessoas de maior risco optaram por escolhas mais seguras.

Older customers look into a restaurant

Michael Meier

Based on the research of

Sergio Rebelo

Martin Eichenbaum

Mathias Trabandt

Francisco Lima

Miguel Godinho de Matos

A maioria de nós mudou de comportamento quando a pandemia surgiu no início de 2020. Foi com tudo, desde estocar papel higiênico e farinha até cancelar viagens aéreas.

No entanto, qual o nível de racionalidade das ações que tomamos relacionadas à COVID?

Essa é a pergunta que levou à criação de uma pesquisa recente de Sergio Rebelo, professor de finanças na Kellogg School. “Um grande tema da economia é: Como as pessoas reagem ao risco?”, diz ele. “Mesmo diante de um risco bem conhecido, as pessoas nem sempre agem racionalmente”.

Rebelo e colaboradores estudaram se os consumidores mudaram seus hábitos de consumo para reduzir o risco de contrair a COVID-19. As pessoas evitaram de maneira desproporcional o consumo de bens e serviços de “alto contato”, como refeições em restaurantes, cinemas e eventos esportivos, que envolvem grande exposição a outras pessoas?

Os investigadores usaram dados sobre os padrões de consumo dos portugueses antes e durante a pandemia e mostraram que as pessoas agiram de forma a reduzir o risco individual. No geral, as pessoas reduziram as compras de bens e serviços de alto contato. Ainda mais impressionante, as pessoas mais velhas e as com probabilidade de problemas de saúde diminuíram esse tipo de gasto muito mais do que os consumidores mais jovens e saudáveis.

“No geral, vimos as pessoas agir de maneira consistente com os modelos de comportamento de risco comumente usados na economia”, diz Rebelo. “E isso é encorajador”.

Gastos em tempos de COVID

Para analisar essas mudanças no comportamento dos consumidores, Rebelo fez uma parceria com Martin Eichenbaum, professor de economia da Northwestern University, Miguel Godinho de Matos, na Católica Lisbon School of Business and Economics, Francisco Lima, da Universidade de Lisboa, e Mathias Trabandt da Freie Universitat Berlin. Eles estudaram os gastos dos consumidores em Portugal entre janeiro de 2018, bem antes de a pandemia chegar, e maio de 2020, após o primeiro pico nos casos globais.

Além do fato de Portugal ser o país de origem de Rebelo, eles optaram por focar o estudo no país europeu porque o órgão responsável pela estatística do país lhes deu acesso a uma enorme quantidade de dados: um resumo mensal anônimo de Imposto sobre valor agregado (IVA), recibos eletrônicos de compras de bens e serviços. Os dados incluem identificadores anônimos de consumidores que representam números fiscais, semelhantes aos números da seguridade social nos Estados Unidos. Tais identificadores são integrados a características individuais, incluindo idade e renda anual. A amostra final inclui dados anônimos de cerca de 100 milhões de transações realizadas por 400 mil consumidores portugueses”.

“Em Portugal, as pessoas são incentivadas a colocar o número fiscal no recibo do IVA porque recebem algumas deduções fiscais e podem participar de sorteios de prêmios”, afirma Rebelo. “Quase todo mundo sabe seu número fiscal de cor e o informam ao fazer pequenas compras, como um cafezinho”.

Rebelo e colaboradores focaram os padrões de compra de servidores públicos e aposentados, o que os permitiu controlar os efeitos das flutuações de renda relacionadas à COVID. “Sabemos que os funcionários públicos têm empregos estáveis, portanto não estavam preocupados em perder o emprego. Obviamente, isso também não fazia nenhuma diferença para os aposentados”, explica ele.

Os pesquisadores examinaram como os gastos com bens e serviços de alto contato, como refeições em restaurantes, e compras de baixo contato, como serviços jurídicos e contábeis, mudaram para grupos de diferentes faixas etárias e para pessoas mais saudáveis e menos saudáveis, após o início da pandemia.

Evidência de racionalidade

Como esperado, a pandemia afetou os gastos de forma a reduzir o risco de infecção pelo coronavírus.

Por um lado, os gastos diminuíram em geral quando surgiu a COVID. “Em Portugal, como em grande parte do resto do mundo, a primeira onda atingiu o pico em abril, com o maior número de infecções”, diz Rebelo. “Foi aí então que houve o maior risco de infecção”. Paralelamente a este período, os gastos decaíram em abril para com todas as faixas etárias.

No entanto, o padrão de corte de gastos variou dependendo da idade. Embora as pessoas idosas tenham reduzido seus gastos significativamente, os mais jovens, que enfrentam um risco menor de consequências drásticas para a saúde, reduziram bem pouco os gastos. Por exemplo, em abril, os consumidores na faixa etária entre 20 e 49 anos cortaram os gastos totais em cerca de 29%, enquanto os que na casa dos 70 anos reduziram os gastos em mais de 50%. Surpreendentemente, a resposta dos consumidores por idade reflete a probabilidade de se vir a óbito em decorrência do COVID-19.

Esses padrões também se aplicam à compra de itens de alto e baixo contato: enquanto os gastos decaíram para ambas as categorias, houve maior queda nas compras de bens e serviços de alto contato - com maior risco de infecção - e essa redução foi mais pronunciada entre as pessoas mais velhas. Em abril, os consumidores na casa dos 70 anos cortaram gastos com bens de alto e baixo contato em 62% e 28%, respectivamente, enquanto os abaixo de 49 anos diminuíram os gastos em 26% e 19%.

“Os mais velhos foram muito mais cautelosos do que os mais jovens”, diz Rebelo. “Reduziram muito mais o consumo de itens de alto contato”.

Os pesquisadores também queriam entender como os gastos mudaram para pessoas com problemas de saúde. Assim, implementaram essa análise observando quanto as pessoas gastam com produtos farmacêuticos. O raciocínio é que quem gasta mais na farmácia tem maior probabilidade de ter problemas de saúde. Em seguida, os autores compararam os gastos gerais daqueles que estão nos 10% de maiores gastos com produtos farmacêuticos com as despesas da população em geral.

“Para cada faixa etária”, diz Rebelo, “as pessoas com problemas de saúde reduziram seus gastos muito mais do que as com menos probabilidade de problemas de saúde”. Isso se aplica para as compras em geral, e especialmente para itens de alto contato.

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De forma geral, os resultados sugerem haver uma grande racionalidade na forma como as pessoas responderam à COVID, sendo que as em maior risco tomaram medidas mais extremas para reduzir a exposição à infecção.

“Sempre é fácil encontrar exemplos de pessoas que não agem racionalmente”, diz Rebelo. “Mas aqui, vemos pessoas agindo para proteger seus próprios interesses”.

No entanto, Rebelo alerta que o comportamento observado em Portugal pode estar relacionado à forma como a liderança do país tratou da situação desde o começo da pandemia.

“Portugal teve uma estratégia de contenção e comunicação coerente em nível nacional”, afirma Rebelo. “Essa estratégia provavelmente ajudou as pessoas a tomarem decisões mais ponderadas. Se a comunicação tivesse sido menos coesa, com vozes diferentes apoiando políticas diferentes, talvez teríamos observado menos prudência/cautela por parte do consumidor”.

Featured Faculty

MUFG Bank Distinguished Professor of International Finance; Professor of Finance

Charles Moskos Professor of Economics, Weinberg College of Arts & Sciences; Co-Director, Center of International Macroeconomics (CIM); Professor of Executive MBA (Courtesy)

About the Writer
Sachin Waikar is a freelance writer based in Evanston, Illinois.
About the Research
Rebelo, Sergio, Martin S. Eichenbaum, Mathias Trabandt, Francisco Lima, and Miguel Godinho de Matos. 2020. “How do People Respond to Small Probability Events with Large, Negative Consequences?” Working paper.

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