Kellogg Insight - Os motivos de não devermos romantizar o fracasso
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Organizations set. 1, 2024

Os motivos de não devermos romantizar o fracasso

Esperamos que as pessoas aprendam com seus erros. Novas pesquisas sugerem que a verdade é bem mais complexa.

runner tripping over hurdle while crowd cheers them on

Yifan Wu

Based on the research of

Lauren Eskreis-Winkler

Kaitlin Woolley

Eda Erensoy

Minhee Kim

Não há dúvidas que fracassar é ruim. Pelo menos, é provável que aprendamos com nossos erros e busquemos coisas maiores e melhores daqui para a frente. Certo?

Na verdade, hoje em dia, os benefícios do fracasso assumiram uma qualidade quase mítica. Os empresários do Vale do Silício aspiram abertamente a "falhar rápido e a falhar com frequência", enquanto uma geração inteira de atletas cresceu com o mantra de Michael Jordan: “Falhei inúmeras vezes em minha vida, e é por isso que eu venci”.

No entanto, há um perigo ao se olhar para o fracasso com óculos cor-de-rosa de sucesso.

“Professores, treinadores e palestrantes tentam ser inspiradores quando se trata de fracasso", diz Lauren Eskreis-Winkler, professora assistente de gestão e organizações da Kellogg. “No entanto, acreditamos que ser muito inspirador - exagerar os benefícios do fracasso – acaba sendo um fator desmotivador. No final, quando falamos de fracasso, devemos procurar usar da precisão”.

Em sete estudos, Eskreis-Winkler e suas colegas descobriram que as pessoas consistentemente superestimam a probabilidade de uma pessoa ter sucesso após um fracasso inicial, um fenômeno que parece vir, pelo menos em parte, da incapacidade de as pessoas lidarem com seus próprios erros. Afinal de contas, quem quer investigar seus próprios fracassos pessoais muito a fundo?

Essa "lacuna de falha" pode ser prejudicial para os indivíduos, que podem não se preparar adequadamente para a próxima oportunidade nem tomar outras medidas para garantir que aprendam com seus erros. Mas também pode ser devastador para as comunidades das quais pertencem, diz Eskreis-Winkler.

"Partindo do princípio de que as pessoas são mais resilientes do que de fato são, você ajuda menos", diz ela. As casas de passagem, os programas de tratamento da toxicodependência e os programas de reincidência perdem terreno se acreditarmos que as pessoas que lutam para se recuperar não precisem de apoio adicional.

Então, teremos mesmo sucesso desta vez?

Com certeza, o fracasso pode ser um passo ao longo do caminho para o sucesso. Por exemplo, os pesquisadores Yang Wang, Ben Jones e Dashun Wang descobriram que os cientistas que perderam por pouco uma verba de pesquisa importante acabaram tendo mais sucesso profissional do que os que receberam a bolsa de raspão. Falhar pode nos transformar em versões melhores de nós mesmos.

A palavra-chave aqui é a possibilidade. Eskreis-Winkler e suas colegas Kaitlin Woolley, da Cornell, Eda Erensoy, da Yale, e Minhee Kim, da Columbia, suspeitaram que fatores como um viés otimista - a tendência a se superestimar a probabilidade de resultados positivos e subestimar a de resultados negativos - pode nos levar a prever maior chance de sucesso após um fracasso do que acaba acontecendo de verdade.

As pesquisadores testaram essa hipótese em vários estudos realizados online.

No primeiro estudo, 300 participantes formados em direito, estudantes de enfermagem ou estudantes de pedagogia que não passaram em sua primeira tentativa em testes de licenciamento. Qual porcentagem desses alunos passaria no mesmo exame na segunda tentativa? Em todas os três campos, os participantes superestimaram muito o número de alunos que passariam no teste na segunda tentativa - às vezes em grande número. Por exemplo, os participantes estimaram que 58% dos estudantes de Direito que não passaram no exame da Ordem dos Advogados obteriam êxito no segundo exame, quando a taxa de sucesso real é de apenas 35%. Um estudo de acompanhamento apresentou resultados semelhantes para os alunos que não passaram na tentativa inicial no Diploma de Equivalência Geral nos Estados Unidos.

Os (super)aclamados benefícios do fracasso

De onde surge o otimismo irrealista face ao fracasso? Bom, parece vir em parte de nossas ideias sobre o próprio fracasso.

Em um outro estudo, os participantes foram informados de que um aluno havia obtido 219 de 300 pontos no exame de licenciatura para o magistério. Criteriosamente, apenas alguns desses participantes foram informados de que 219 pontos reprovava o candidato. Os participantes que sabiam que o aluno havia sido reprovado originalmente superestimaram a probabilidade de obter uma pontuação mais alta no próximo teste, mas o mesmo não ocorreu com os participantes que apenas ficaram a par da pontuação (sem o contexto de reprovação).

Nossas crenças sobre o lado positivo do fracasso também não se limitam aos domínios mais tradicionais de realização. Em geral, os participantes superestimam a probabilidade de uma pessoa viciada em opioides iniciar tratamento, mas suas estimativas são ainda mais infladas para as pessoas que acabaram de sofrer um "fracasso" (uma overdose de drogas não fatal). Na verdade, pessoas que recentemente passaram por uma overdose são menos propensas a iniciar tratamento.

Isso, evidentemente, levanta a questão sobre o motivo de estarmos tão confiantes de que o fracasso, em especial, dá margens para o sucesso. De acordo com a pesquisa, parece surgir de uma confiança inflada de que as pessoas aprenderão ativamente com seus próprios erros.

Em um estudo, por exemplo, um grupo de enfermeiros de oncologia respondeu à pergunta : "Que porcentagem dos americanos acredita que os pacientes em ensaios clínicos não recebem o melhor atendimento possível?", escolhendo entre duas opções. Os que responderam incorretamente foram informados de que haviam respondido incorretamente, o que lhes deu a chance de aprender com seu erro; mais tarde, eles foram testados novamente com as mesmas informações. Apenas cerca da metade dos participantes testados novamente responderam corretamente na segunda vez.

No entanto, quando outro grupo de enfermeiros oncológicos teve que prever quantos de seus colegas aprenderiam após dar uma resposta inicial incorreta, esse grupo estimou que cerca de 86% aprenderiam. (Um estudo de acompanhamento descobriu que as pessoas não superestimaram a probabilidade de aprender com o sucesso, apenas com o fracasso.)

“Superestimamos a resiliência", diz Eskreis-Winkler. “Acreditamos que as pessoas aprendem e crescem com o fracasso mais do que realmente aprendem".

Aqui não acontece nada...

O que mais poderia estar acontecendo? O que há no fracasso que nos faz pensar que as pessoas aprendem mais com ele do que do contrário?

As pesquisadoras levantaram a hipótese de que grande parte disso diz respeito à atenção e, especificamente, ao grau de desconforto que nos causa lidar com os nossos próprios fracassos. Visto de fora, o fracasso oferece uma oportunidade espetacular para reavaliar e crescer. Porém, para as pessoas que realmente falham, essa oportunidade é um pouco menos saborosa.

Além disso, outro estudo descobriu que os participantes superestimaram quantas pessoas solicitariam feedback detalhado sobre seus próprios erros. Isso, por sua vez, serviu como embasamento da superestimação de que as pessoas teriam sucesso da próxima vez.

Ainda assim, quando somos lembrados de quão raramente as pessoas prestam atenção aos seus erros, nossas estimativas sobre sua probabilidade de sucesso futuro se tornam mais precisas. Quando os participantes tiveram que estimar a probabilidade de um sobrevivente de ataque cardíaco se sentir motivado a fazer mudanças no estilo de vida, eles previsivelmente superestimaram. No entanto, os que foram informados de que apenas uma "pequena minoria" de sobreviventes de ataques cardíacos pensa ativamente em sua saúde, as previsões foram menos infladas.

Implicações sociais da superestimação do sucesso

Nossa tendência coletiva de superestimar o quanto as pessoas aprenderão com seus erros pode ter consequências generalizadas que podem influenciar as políticas públicas de maneiras que tornam o sucesso menos provável.

Essa é a conclusão do estudo final das pesquisadoras, no qual 200 participantes foram diretamente questionados sobre qual quinhão dos impostos deveria ir para programas que ajudam pessoas a se recuperam do vício em opiáceos com tratamento. Metade foi informada da triste realidade de que apenas 9% das pessoas que acabaram de entrar em recuperação não sofrem recaídas no primeiro ano, enquanto a outra metade teria que imaginar uma taxa de recuperação (presumivelmente muito maior). O compartilhamento de informações sobre a baixa taxa de sucesso impulsionou o apoio dos participantes aos programas. Resultados semelhantes, usando métodos ligeiramente diferentes, foram obtidos para programas de reabilitação para pessoas que haviam sido encarceradas anteriormente.

Levando tudo isso em conta, como se deve pensar sobre o fracasso? "De olhos abertos", diz Eskreis-Winkler. “Nosso artigo sugere que acreditar muito fortemente nos benefícios do fracasso tem as mesmas consequências negativas que temer o fracasso: as pessoas se desligam da experiência".

Ao contrário disso, ela argumenta, as pessoas devem “adotar uma visão mais clara da verdade. Isso motiva as pessoas a se sintonizar com o fracasso, aprender e crescer com a experiência”.

Isso é verdade para as pessoas como indivíduos, que provavelmente podem se beneficiar de prestar atenção cuidadosamente ao motivo do fracasso, independentemente do quão desconfortável isso as torne. Serve também para as comunidades, explica ela. "Essa crença errônea prejudica a motivação para investir dinheiro dos contribuintes em todos os tipos de programas".

About the Writer

Jessica Love is editor in chief of Kellogg Insight.

About the Research

Eskreis-Winkler, Lauren, Kaitlin Woolley, Eda Erensoy, and Minhee Kim. 2024. "The Exaggerated Benefits of Failure." Journal of Experimental Psychology: General. 153(7): 1920–37.

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