Kellogg Insight - O que provoca uma maré de sorte profissional?
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Careers out. 4, 2021

O que provoca uma maré de sorte profissional?

Novas pesquisas revelam a receita para o sucesso.

Collage of sculptor's work culminating in Artist of the Year recognition

Riley Mann

Based on the research of

Lu Liu

Nima Dehmamy

Jillian Chown

C. Lee Giles

Dashun Wang

A inspiração arrebatou Dashun Wang em um museu.

Há algum tempo, ele estava no Museu Van Gogh em Amsterdã e ali observou algo interessante. “As pinturas ficaram menores em termos de estilo e tema após Van Gogh se mudar para o sul da França no final de 1800”, diz Wang, professor de administração e organizações na Kellogg. Essa mudança, descobriu-se, sinalizou o início do período de maior sucesso do artista, incluindo peças icônicas como Noite estrelada sobre o Ródano e A cadeira de Van Gogh com cachimbo.

Isso levou Wang a uma pista muito necessária para uma questão de pesquisa que ponderava a anos: O que provoca uma maré de sorte?

Marés de sorte”, ou períodos de sucesso incomum que definem a carreira das pessoas, foram observados em quase todos os domínios criativos, desde o “ano milagroso” de descobertas inovadoras de Einstein, incluindo a teoria da relatividade, ao sucesso de bilheteria do diretor Peter Jackson, a trilogia do O Senhor dos Anéis. A pesquisa anterior de Wang sugeria que as marés de sorte ocorrem aleatoriamente durante a carreira das pessoas, como um cometa sem tempo previsível.

“Parece que marés da sorte existem para quase todo mundo”, diz Wang. “Mas a impressão é que elas surgem como um passe de ‘mágica’ ou simplesmente aleatoriamente”. Ou seja, ninguém havia encontrado um precedente confiável para períodos de grande sucesso.

Até agora.

Inspirado pela viagem ao Museu Van Gogh, Wang e seus colegas elaboraram um estudo que usa IA para analisar milhões de obras de artistas, diretores de cinema e cientistas, em busca de potenciais mecanismos de gatilho da maré de sorte.

Os autores descobriram que, em várias categorias, as marés de sorte normalmente decorrem de uma combinação específica de investigação –trabalho mais diversificado em estilos e áreas de foco – seguido por exploração – um foco mais restrito em uma categoria específica de trabalho que leva a um sucesso desproporcional ao esforço empregado.

“Encontramos uma das primeiras regularidades identificáveis relacionadas ao início de uma maré de sorte”, diz a coautora Jillian Chown, professora adjunta de administração e organizações da Kellogg“. Essa descoberta pode ajudar pessoas e organizações a compreender os tipos de atividades nas quais podem se envolver e a sequência ideal a ser usada para ter maior impacto”.

Análise baseada em IA

Antes deste estudo, o maior obstáculo para se entender o que desencadeia uma maré de sorte era não saber como caracterizar os trabalhos criativos de forma padronizada, ao longo das carreiras das pessoas. O que compõe o estilo de um artista, por exemplo? Como se categorizaria as produções de um cineasta?

Para solucionar esse problema, Wang e Chown, juntamente com a autora principal deste trabalho Lu Liu, doutoranda do Center for Science of Science and Innovation da Kellogg, Nima Dehmamy, professor assistente de pesquisa na Kellogg e C. Lee Giles da Pennsylvania State University, desenvolveram uma rede neural profunda para os três principais categorias: pinturas, filmes e ciências. Por exemplo, os sistemas de IA utilizaram tecnologia de reconhecimento visual para analisar os tipos de matérias e pinceladas nas pinturas e identificaram o gênero e o estilo do filme analisando resumos de trama, elenco e outras informações disponíveis online. Eles utilizaram esse método inovador para examinar as carreiras de 2.128 artistas, 4.337 diretores e 20.040 cientistas – um conjunto de milhões de obras no total.

A rede neural permitiu aos pesquisadores captar o estilo de cada pessoa, áreas de foco e outras dimensões relacionadas à produção de sua carreira, para entender como o conjunto do trabalho evoluiu ao longo do tempo, no contexto de investigação e exploração.

Para entender sucesso e impacto – o alicerce para uma maré de sorte – o estudo usou medidas geralmente aceitas que representam sucesso em cada campo: número de citações de trabalhos científicos, preços de leilão de arte e classificações de filmes do IMDB.

“Nossa abordagem nos permitiu correlacionar as marés de sorte com a trajetória criativa de cada indivíduo, para entender o que pode prever essas marés”, diz Wang.

Receita para o sucesso

Os resultados deixam bem clara a “receita” para uma maré de sorte: a investigação de opções criativas seguida pela exploração de uma “trajetória” específica de trabalho que, em última análise, leva a um maior êxito. Isso se repetiu nos três domínios analisados.

Por exemplo, o diretor Peter Jackson fez filmes de terror, comédia, drama e outros (o que refletiu um período de investigação) antes de acertar em cheio com a trilogia O Senhor dos Anéis. Da mesma forma, a análise do trabalho do pintor Jackson Pollock mostrou a investigação de uma ampla gama de estilos antes do “período de gotejamento” (1946–1950) que o levou à fama mundial.

A pesquisa constatou, ainda, que investigação ou exploração por si só não é suficiente para uma maré de sorte. Ou seja, apenas a sequência de investigação-exploração específica levou ao maior aumento na probabilidade de uma maré de sorte: marés de sorte após essa sequência foram 20,5%, 13,8% e 19,2% mais prováveis para artistas, diretores e cientistas, respectivamente, em comparação com após um ponto aleatório em uma determinada carreira. Investigação e exploração sozinhas não estão associadas a essa diferença positiva.

“Se fizer apenas uma ou outra atividade, não se obterá o impacto total”, diz Chown. “É preciso haver a combinação da investigação seguida da exploração: experimentando em diferentes áreas, aprendendo diferentes domínios e abordagens. Depois, realmente se concentrar e desenvolver aquele conjunto de trabalho de alto impacto”.

Wang concorda: “Nosso trabalho mostra que as pessoas experimentam e provavelmente adquirem novas habilidades ao trabalhar em diferentes subcampos e, em seguida, isso as ajuda a encontrarem a melhor opção a explorar, o que parece ser um elemento crucial para a maré de sorte”.

Assim, o estudo descobriu que a área de maré de sorte da investigação não é geralmente a área mais recente explorada, o que respalda a ideia de que as pessoas coletam informações e experiências em diversas áreas, e em seguida, avançam com a mais adequada.

Promoção e apoio das marés de sorte

A pesquisa conclui que pessoas e organizações podem estimular suas próprias marés de sorte.

Indivíduos em busca de qualquer empreendimento criativo agora sabem que a sequência investigação-exploração tem maior probabilidade de dar luz a uma maré de sorte. “A combinação de atividades criativas é especialmente potente”, diz Wang. Na prática, pode significar a investigação de vários subcampos para se encontrar o ajuste correto – como um cientista que faz pesquisas em vários domínios da biologia antes de se decidir por um de foco.

Organizações também podem fazer uso de insights de marés de sorte. Instituições acadêmicas e financiadores, por exemplo, podem analisar a trajetória de carreira de professores e pesquisadores atentamente para descobrir quem tem maior probabilidade de atingir uma maré de sorte no curto prazo e apoiar esse indivíduo por meio de avanços, financiamento ou outros recursos.

Da mesma forma, as empresas podem aplicar esse entendimento da dinâmica de marés de sorte para decidir como gerenciar a propriedade intelectual.

“Uma empresa poderia observar o nível de concentração de suas patentes em determinadas áreas para entender o padrão de investigação e exploração relacionado à inovação”, diz Chown, e em seguida fazer ajustes visando uma maré de sorte. Da mesma forma, empresas farmacêuticas ou de biotecnologia pode examinar o funcionamento dos produtos para diferentes áreas terapêuticas – câncer, diabetes, etc. – à medida que procura investigar e explorar essas áreas.

A pesquisa também pode revelar como as organizações devem estruturar a investigação e a exploração e como devem incorporar essas etapas à estratégia de negócios.

Há diferentes grupos trabalhando em investigação e exploração em empresas, por exemplo, separando a equipe de pesquisa e desenvolvimento das equipes de produto. “Isso apresenta o risco de não permitir que as pessoas tenham sua própria sequência de investigação e exploração”, diz Chown, porque um determinado participante da equipe trabalharia apenas ou na investigação ou na exploração, e não em ambas as atividades.

Os pesquisadores dizem que há ainda muito mais a descobrir sobre o que desencadeia uma maré de sorte. “Seria de imensa valia descobrir as motivações das pessoas quanto à exploração de certas coisas”, diz Chown.

Da mesma forma, ainda não se sabe os motivos de alguém passar da investigação para a exploração. Por exemplo, “ainda não está claro qual a quantidade correta de investigação antes de se passar para a exploração”, diz Wang.

Porém, mesmo que haja muito ainda a descobrir, Wang diz, “agora finalmente sabemos que as marés de sorte não acontecem com um passe de mágica, mas sim quando uma pessoa investiga diferentes áreas e, em seguida, encontra o espaço certo para explorá-la visando maior sucesso”.

Featured Faculty

Previously a Visiting Predoctoral Fellow at Kellogg

Associate Professor of Management & Organizations

Professor of Management & Organizations; Professor of Industrial Engineering & Management Sciences (Courtesy), Director, Center for Science of Science and Innovation (CSSI), Co-Director for the Ryan Institute on Complexity

About the Writer

Sachin Waikar is a freelance writer based in Evanston, Illinois.

About the Research

Liu, Lu, Nima Dehmamy, Jillian Chown, C. Lee Giles, and Dashun Wang. 2021. “Understanding the Onset of Hot Streaks across Artistic, Cultural, and Scientific Careers.” Nature Communications.

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