Politics & Elections set. 4, 2018
Crises econômicas provocam renovação política em alguns países, mas não em outros
A queda pode depender da confiança mútua entre os cidadãos.
Michael Meier
Em 2009, a economia grega quebrou, levando o país a uma séria recessão. O fracasso financeiro também provocou instabilidade política: o governo foi forçado a convocar uma eleição antecipada e perdeu o poder.
A crise econômica que sacudiu a Grécia não foi isolada e afetou vários países da União Europeia. A Noruega, por exemplo, também sofreu queda em seu produto interno bruto. No entanto, houve pouca turbulência política no país.
Como podemos explicar esta diferença?
"Muito do que foi noticiado falava sobre as pessoas estarem zangadas com o governo grego e sentindo-se enganadas por seus políticos", diz Nancy Qian, professora de economia gerencial e ciências da decisão na Kellogg School. “Era impressionante ouvir que, em outros países europeus que passavam por uma recessão, não se ouvia falar a respeito de instabilidade política ou protestos”.
Ao longo da história, as crises econômicas dão origem a respostas políticas diversas. No entanto, pode ser difícil identificar o motivo por trás dessas diferenças, pois países como, por exemplo, Grécia e Noruega diferem de muitas formas, incluindo em seus níveis gerais de prosperidade.
Sendo assim, Qian e seus coautores decidiram se concentrar em uma métrica específica: o quanto as pessoas de um determinado país geralmente confiam em seus conterrâneos.
O grupo de pesquisadores descobriu que, em países onde os níveis gerais de confiança são altos, é menor a probabilidade uma crise econômica causar instabilidade política. Contudo, em países onde as pessoas confiam menos nas outras pessoas é mais provável que sinais de uma economia agitada levem à queda do partido que esteja no poder.
“Se for uma pessoa que deposita menos confiança nos demais, posso dizer algo como: 'Não entendo os detalhes do que nosso líder está fazendo, mas a maioria dos políticos é ruim e preguiçosa, então provavelmente a culpa é dele', Qian explica. Por outro lado, uma pessoa mais confiante pode colocar a culpa em fatores além do controle dos políticos. “Trata-se da nossa propensão em atribuir os problemas econômicos às circunstâncias ou à sorte, em vez de à liderança política".
Como medir a instabilidade política e a economia
Para testar o papel da confiança nas repercussões políticas, Qian e seus colegas Nathan Nunn, da Universidade de Harvard, e Jaya Wen, da Universidade de Yale, combinaram conjuntos de dados disponíveis publicamente que incluíam eventos na maioria dos países do mundo.
Coletaram dados globais de 1945 a 2014 do banco de dados do Archigos para saber se o chefe do governo foi substituído em um determinado ano. (Em vez de analisar o líder designado - em alguns casos, um monarca cerimonial - os pesquisadores consideraram os governantes efetivos do Estado, como o primeiro-ministro em sistemas parlamentares ou o presidente do partido nos países comunistas).
Separadamente, eles calcularam o nível médio de confiança em países usando fontes como a World Values Survey (Pesquisa de Valores Mundiais), que trazem uma amostra representativa da população de cada país. Entre as perguntas temos: “De modo geral, você diria que (A) a maioria das pessoas é confiável ou (B) que é preciso muito cuidado ao se lidar com as pessoas de seu país?”
Em seguida, os pesquisadores definiram uma métrica de confiança média como a fração de entrevistados de um país que disse que se pode confiar na maioria das pessoas. A Noruega ficou em primeiro lugar, com um valor de 0,79, e Cabo Verde obteve o menor valor, com 0,03, significando que apenas 3% das pessoas disseram que geralmente confiavam em outras pessoas.
Precisamente, o motivo para a variação da confiança nos países não é claro, diz Qian, mas é uma medida que permanece relativamente estanque com o tempo.
Os pesquisadores também usaram os dados para medir como a rotatividade política se correlacionava com as recessões econômicas, definidas como períodos de crescimento negativo do PIB, em países com diferentes níveis de confiança relativa. “Comparamos a probabilidade de rotatividade política em um determinado país em estado de recessão e em outro sem recessão", diz Qian.
Em seguida, os pesquisadores estudaram como essas probabilidades variavam com diferentes níveis de confiança média em determinados países.
O papel da confiança na rotatividade política
Na verdade, a confiança desempenhou um papel na determinação de quais países votaram para destituir seus líderes após terem passado por uma recessão.
Havia menos probabilidade de as desacelerações econômicas causarem rotatividade política em países com alto índice de confiança do que em países com baixo índice de confiança. Por exemplo, uma recessão apresentou uma probabilidade 12% maior de desencadear mudanças na liderança política na Itália, onde apenas 29% das pessoas dizem que geralmente têm confiança, do que na Suécia, onde 63% da população expressa ter altos níveis de confiança.
Essa relação só foi vista em democracias onde as pessoas tinham o poder de votar na destituição de autoridades.
"Não notamos existir esse padrão nas autocracias, o que faz sentido", diz Qian. “Você pode mudar a liderança em uma autocracia por meio de revolução ou golpe de estado, mas isso é mais difícil de acontecer, e por isso não há muitas pessoas que consigam fazer isso”, mesmo que geralmente sejam mais relutantes quanto à confiança.
Sendo assim, depois de recessões, eleger um novo governo ajuda a economia a se recuperar?
Os pesquisadores descobriram que os países com alto índice de confiança que não votaram pela destituição de seus governos após uma recessão tenderam a se recuperar mais rapidamente do que os países que votaram para mudar os partidos no poder. A correlação não é um nexo de causalidade, explica Qian. Os países de alto índice de confiança também contam com outros fatores, como maior liberdade da mídia, renda mais alta e democracias mais fortes, as quais podem desempenhar um papel nessa recuperação.
Por fim, os pesquisadores examinaram os impactos internacionais das crises econômicas. Afinal, as recessões podem atravessar fronteiras. Mas a equipe descobriu que uma desaceleração em um país não desencadeou eventos políticos em países vizinhos ou em parceiros comerciais.
"Não esperávamos encontrar um resultado tão claro de que o que importa são apenas as recessões no próprio país", diz Qian. "Isso implica que os eleitores são capazes de separar o que está acontecendo em seu país de origem, onde podem querer culpar seus políticos, daquilo que acontece fora do controle de seus líderes".
Análise das políticas econômicas
Os resultados têm implicações diretas sobre como as nações abordam interações econômicas.
“Por exemplo, estamos entrando agora em uma guerra comercial com vários países”, diz Qian. “Se acreditarmos que nossas decisões comerciais terão efeitos econômicos para essas nações, precisamos também considerar as possíveis consequências políticas".